O Candelabro Italiano (1962)

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Após a Segunda Guerra Mundial, a Itália se tornou um dos cenários preferidos para muitos cineastas. Suas ruas e monumentos foram mostrados em diversos filmes, como A Princesa e o Plebeu de William Wyler e foi tema de A doce vida, do mestre Federico Fellini. Katharine Hepburn foi uma solteirona que viaja para curtir as férias no país, em Summertime (1955). E em 1962, Delmer Daves (Tarde Demais para Esquecer e Prisioneiro do Passado) dirigiria O Candelabro Italiano (Rome Adventure). A beleza de Candelabro Italiano é restrita às belas paisagens.

O filme foi uma adaptação do romance “Lovers Must Learn”, de Irving Fineman. Lançado em 1962, trazia um elenco de jovens artistas que incluía Troy Donahue (A Summer Place) e o italiano Rossano Brazzi, figurinha fácil em filmes ambientados na Itália.
Candelabro Italiano traz a história de Prudence Bell (Suzanne Pleshette), uma jovem professora que decide ir embora para Roma, local que ela acredita que está rodeado de pessoas que entendem o significado do amor. A jovem tem medo de se tornar uma solteirona e embarca cheia de esperanças e medos para sua viagem à Itália. Durante o percurso ela conhece Roberto Orlandi (Rossano Brazzi), um homem maduro que parece ser o perfeito amante e que lhe dá muitos conselhos sobre como agir.

Já em Roma Prudence consegue um emprego em uma pequena livraria. É lá que ela conhece Don (Troy Donahue), um rapaz que tinha acabado de terminar um romance. Os dois se aproximam e entre idas e vindas iniciam um romance. É interessante saber que os atores Troy Donahue e Suzanne Pleshette se deram tão bem durante as filmagens que acabaram por se casar. O casamento não durou muito mas serviu para criar uma áurea de romance entre os dois durante as filmagens.
Na década de 60 as mulheres lutavam por seus direitos, e o movimento feminista chegou com tudo, abrindo novos horizontes e perspectivas para todas. A pílula se popularizou de vez e estava nas mãos das mulheres decidirem sobre a concepção, algo que, se indesejável, a prendia em seus lares. O amor livre começou a ser propagado e muitos escolheram viver relações sadias ao invés do antigo modelo de casamento há muito gasto. Pois bem, diante de todo esse cenário de libertação, Candelabro Italiano ainda bebe na fonte há muito tempo seca.

Nesse mesmo ano seria lançado o francês Jules e Jim (de François Truffaut), que mostra o triangulo amoroso entre uma mulher e dois homens. Bonequinha de Luxo (de Blake Edwards) é americano, e embora tenha sofrido cortes no roteiro ainda apresenta a história de uma garota que é prostituta e deseja se casar e ir embora para o Brasil. Sophia Loren é uma princesa austríaca que é expulsa da propriedade familiar por causa de suas “indiscrições escandalosas” em O Escândalo da Princesa. E por fim temos A Bela da Tarde, lançado em 1967 por Luis Bruñuel, que mostra uma dona de casa entediada que começa a fazer programas durante a tarde, para passar o tempo. Esses foram apenas alguns dos exemplos de filmes lançados durante essa década.No entanto temos o Candelabro Italiano, filme que parece ter nascido já ultrapassado. As lições de moral dadas ao longo do filme são de causar náuseas em qualquer um, inclusive à época em que foi lançado. Na boca do personagem Roberto um discurso que diz que a mulher pode até querer ter a mesma liberdade do homem, mas que ela nunca estará no mesmo nível dele, que não saberá arcar com as consequências. As consequências seriam não ser respeitada, como se respeito fosse algo que se conquista e não seja inerente a todos nós. Todos merecemos respeito, independente de qual atitude escolhemos na vida. Mas o mais chocante é ver Prudence, emocionada, abrir um sorriso e abraçar Roberto. Pobre roteiro.

Outro clichê tremendo é a questão de duas mulheres disputando o amor de um homem. E de uma delas sempre será a malvada, a moralmente questionável. Nas palavras de uma das personagens, mulheres disputam tudo entre si desde o momento em que nascem. E elas tem que estar acostumadas a lutar pelo seu homem. Típico discurso machista que há tempos já estava ultrapassado. O homem surge como troféu a ser disputado e almejado. Como é triste a vida das mulheres, sempre em busca de um homem que as complemente. E sem eles, elas não passam de tristes páreas, solitárias e sem futuro.

Na década de 30 tínhamos filmes com temáticas modernas, mas o Código Hays, trancou o sexo em um quarto, definindo o que seria ou não colocado em um filme. Mas nem o código hays pode ser usado como justificativa, já que durante essa década ele já tinha perdido o uso na maioria dos filmes lançados.
É curioso notar como muitas pessoas acham esse um filme romântico e ignoram a mensagem extrema que ele traz. À primeira vista pode parecer um filme escapista, mas no fundo é um dos mais fiéis representantes de uma escola moralista que tomou conta do cinema nas décadas anteriores. Ele vale mais como uma história de época e como um passeio pelas belas ruas de Roma do que como história em si.(Ao som de Al di la com Emilio Perico)

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