Os Viúvos Também Sonham (1959)

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Penúltimo trabalho da carreira de Frank Capra, Os Viúvos Também Sonham (A Hole in the Head) traz a história de Tony Manetta (Frank Sinatra), um homem que se apresenta como um bon vivant falido: tem um filho chamado Ally (Eddie Hodges), orgulha-se de não se apegar a nenhuma mulher (embora tenha um chamego com a bela Shirl) e sonha em ser rico. Mas seus planos não vão bem. O hotel que possui passa por grandes problemas, e ele precisa de ajuda urgente!

Desesperado, pede empréstimo ao seu irmão Mario (Edward G. Robinson), mentindo que o dinheiro é para seu filho doente. Assustado, Mario corre ao seu encontro com sua esposa Sophie (Thelma Ritter), e constata a mentira. Indignado com a situação, Mário decide que é hora do irmão mais novo se estabelecer na vida, ao lado de uma esposa. E para isso tem já uma indicação: a bela e rica viúva Eloise (Eleanor Parker). À princípio Tony se nega a entrar no jogo do irmão, que aproveita e ameaça tirar a guarda de Seu filho.

O que eu posso dizer… primeiramente a história é bem datada. Em 1959 já estávamos às portas da revolução sexual, e ela já pode ser notada na personagem Shirl (Carolyn Jones), uma mulher livre e que não deseja cuidar de crianças ou estabelecer vínculos afetivos com o matrimônio. Mas transformam-na no filme em uma doidivanas, pecando com o excesso de cenas em que bebe excessivamente , passeia de maiô ou insiste em uma vida sem compromissos. Já sabemos, desde o início, e pelo tom dado ao roteiro, que a personagem era vista como alguém que não merece atenção e que é passageira.

Em contrapartida, o casal Sophie e Mario surgem como aqueles que buscam botar algum juízo na cabeça do já coroa mas banda voou Tony. E ele cai. Os princípios cristãos e da boa conveniência insistiam em continuar na moda, mesmo com a chegada iminente dos anos 60. Era a velha Hollywood dando seus últimos suspiros idealistas. E Frank Capra também. O diretor vinha um hiato de 8 anos sem lançar nenhuma produção, e voltava com essa que não fazia jus à sua tradição. Falta aqui o herói Frankiano, aquele que acredita na vida, que dá a volta por cima, que sofre mas não deixa de sonhar. Tony não possui o otimismo que configurou tantos personagens do diretor décadas antes.Talvez o personagem que mais chegue perto desse ideal seja o pequeno Ally, que acaba por unir todos os vínculos familiares e se dá bem com todos os envolvidos. Mesmo em meio ao embate sobre sua guarda, ele sabe com quem deseja ficar, mas mantém uma civilidade invejável até mesmo nos adultos, que parecem pouco pensar. A viúva Eloise parece ter caído do céu, e suas cenas a mostram cozinhando, conversando em voz baixa, cuidando com carinho do garotinho, numa indicação de que ela seria a mulher ideal para manter o padrão tradicionalista que o filme indica.

Mas o filme tem momentos bons, sobretudo os que Tony divide com o filho. Em um deles, os dois cantam a deliciosa música “High Hopes” de Sammy Cahn e Jimmy Van Heusen, que acabou ganhando o Oscar desse ano. Também é preciso que eu cite o “ladrão” de cenas que é o Edward G. Robinson, tomando o protagonismo a cada vez que aparece. Sinatra é bom o suficiente, mas não é um Robinson, que se tornou imortal em tantos filmes policiais e noirs das décadas passadas.Os Viúvos Também Sonham é uma ode à velha América, orgulhosa de seus princípios e que insistia em colocar pessoas em padrões. E embora Tony insista durante algum tempo em não segui-los, já sabemos de antemão que não haverá para onde fugir, sobretudo com um golpe tão baixo quanto a beleza de Eloise.

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