Sétimo Céu (1927) | de Frank Borzage

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Em 1929 a Academia se reunia pela primeira vez para premiar os melhores. Na cerimônia que aconteceu no Hollywood Roosevelt Hotel, Los Angeles, California, não haveria surpresa. Os vencedores já sabiam previamente os ganhadores. Naquele ano, Asas levaria a estatueta (que ainda não tinha nome) de Melhor Filme, se tornando o único silencioso a ter essa honra. Mas Sétimo Céu, de Frank Borzage, levaria três importantes prêmios: melhor diretor por filme de drama, melhor atriz (Janet Gaynor) e melhor roteiro adaptado. Não era para menos. Frank Borzage sabia do bom material que tinha em mãos quando topou realizar a adaptação da peça de Austin Strong. O sucesso na Broadway, cinco anos antes, indicava que a história tinha tudo para dar certo.


Com elementos melodramáticos, Sétimo Céu conta a história de Chico, um homem pobre, ateu e que trabalha nos esgotos de Paris. Seu sonho é subir à superfície e melhorar de vida. Seu ateísmo é justificado pelas inúmeras vezes que clamou por ajuda dos céus e não obteve nada. Em contrapartida conhecemos a doce Diane, uma mulher igualmente sofrida. Diane apanha de sua irmã mais velha, que lhe obriga a conseguir dinheiro para sustentar seus vícios. Mas tudo irá mudar quando Chico e Diane tiverem suas vidas entrelaçadas. Da amizade surge o amor e ele a convida a morar em sua casa. A chegada da primeira guerra mundial traz desalento e a separação do casal. Enquanto aguarda seu amado, Diane não percebe, mas um grande milagre acontecerá em suas vidas.

Borzage estava certo, e o filme se tornaria um dos maiores sucessos daquele ano. Tinha tudo o que o público queria: uma história simples e a motivação para vencer grandes batalhas da vida. O elenco escolhido trazia dois jovens que seriam alçados à categoria de grandes astros: a pequena Janet Gaynor e o belo Charles Farrell. Mas antes dos dois, outros foram cogitados para os papéis principais, dentre eles John Gilbert, Joel McCrea, Mary Pickford, e Joan Crawford.


Janet Gaynor engataria a partir daí uma série de sucessos, sendo mais conhecida pela versão de “Nasce uma Estrela” (1937).  Uma curiosidade: a atriz abandonaria a carreira na década de 50 e  chegou a morar uma década aqui no Brasil, mais precisamente em Goiás. Charles Farrell, por sua vez, era um ator belíssimo, mas que abandonou precocemente as telas: ainda na década de 40, deixaria tudo para se dedicar à carreira política. Ainda retornou algum tempo depois, falecendo na década de 90. O fato é que a química dos dois atores funcionou tão bem que eles repetiram a dose em outros tantos filmes, formando uma das primeiras duplas românticas das telas.
Borzage era bem conhecido pelos dramas românticos que encheram as telas por mais de quatro décadas. Dentre as características marcantes estavam a preferência por temas espirituais, sobre a fé que transforma as pessoas e os ambientes e a preocupação em manter a dignidade em meio às adversidades. Outros exemplos, além de Sétimo Céu, são A Farewell to Arms (1932), Man’s Castle (1933) e Green Light (1937). E se tem algo que Sétimo Céu tem é esse caráter quase religioso e que hoje em dia pode soar um tanto quanto forçado.


O diretor sabia muito bem trabalhar com o que tinha. O cinema mudo, ao contrário do que muitos possam imaginar, alcançara um patamar de produção que em nada deixa a desejar os mais modernos filmes de nossa atualidade, tendo que refrear apenas com a chegada do cinema falado. A fotografia clássica contava com elementos de movimentos excessivamente belíssimos. Em uma das primeiras cenas somos presenteados com um travelling frontal, que acompanha os passos de uma cambaleante Diane pelas ruas. Como um observador, a acompanhamos até sua chegada à taberna.

Outro exemplo de técnica apurada está na cena em que Chico a leva para seu apartamento, localizado no sétimo andar. Borzage também nos faz acompanhar a subida do casal, passo a passo, utilizando para a mesma um elevador que fazia com que a câmera não deixasse escapar nenhum movimento do doce casal. O corte quase imperceptível pode ser verificado no penúltimo andar, quando as luzes aparentemente se apagam.

Percebemos o quanto a chegada do som mexeu com os ânimos, tanto dos atores, quanto dos técnicos, que tiveram que se adaptar às questões há tanto tempo vencidas. A questão do movimento acabou sendo o mais prejudicado, já que os microfones embutidos exigiriam que os atores não saíssem de seus lugares. Somente tempos depois, e com outras tecnologias, o cinema voltaria a respirar e os atores a se soltarem de seus fios. Sétimo Céu, apesar de ser inteiramente mudo, trazia uma trilha sonora sincronizada e efeitos sonoros. Foi um dos primeiros a utilizar uma banda sonora gravada, e uma das canções trazia a voz da soprano Zari Elmassian. Com isso, não é difícil perceber porque faria tanto sucesso e ajudava a Fox Film Corporation a se tornar um dos mais maiores estúdios da época.

 

 

Uma Versão Falada

Uma série de filmes mudos receberam uma nova roupagem no início dos falados. Alguns tiveram cenas dubladas posteriormente (em inglês e por vezes em espanhol), e outros foram refeitos com som. Sétimo Céu havia sido um dos maiores sucessos da década de 20, e o estúdio estava ansioso em repetir a dose, dessa vez com falas em 1937.

Para isso contrataram o diretor Henry King e os atores James Stewart e Simone Simon para uma versão vinte minutos mais curta. Assistindo à mesma percebemos que embora traga todos os elementos da obra original, carece de algo. Stewart ainda estava no início de sua carreira, mostrava o grande talento que possuía, e quão superior tecnicamente já era de Charles Farrell. Mas algo não funciona, e não é por causa da doce Simone Simon. Torna-se uma obra inteiramente dispensável e repetida. De qualquer maneira vale a pena conferir, nem que seja por causa do carisma do casal Stewart e Simon.
Foi com grande alegria que soubemos que a Obras Primas do Cinema lançou as duas versões do Sétimo Céu no Brasil.  Um prato cheio para os fãs do cinema clássico. No dvd temos ainda uma entrevista com o Borzage e os já conhecidos cards trazidos pela distribuidora. Você pode adquirir o dvd  nas principais livrarias ou online no site da Colecione Clássicos.
Depois queremos saber o que vocês acharam das versões. Combinado?

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