As Sete faces do doutor Lao (1964)

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Tony Randall se desdobrou para fazer oito personagens em As Sete Faces do Doutor Lao: Além de Lao, ele foi o homem das neves, o mago Merlin, Apollonius, Pã, a serpente gigante, a Medusa e um membro da assistência. E embora não tenha sido a primeira opção ~ Peter Sellers estava cotado para assumir o protagonismo do filme ~ mostrou que era o grande nome da história.

E não era por menos, o ator era bem conhecido por sua versatilidade, adquirida ainda nos tempos em que atuava no teatro e levado posteriormente para a televisão. Sua entrega aos personagens foi admirável, e ele raspou a cabeça para encarnar Lao e tornar mais fácil a aplicação da maquiagem utilizada para compor os outros personagens.

Arthur O’Connell interpreta Clint Stark, o magnata esperto que deseja intensamente acumular posses e poder. Ele está disposto a enriquecer e utiliza-se de informações confidenciais para comprar as terras dos moradores da cidade. Stark sabe que a cidade será valorizada pela construção de uma estrada de ferro, e aproveita-se disso para comprar os lotes por um preço bem baixo. Corruptos como são, os moradores estão dispostos a vender tudo o que possuem. Nada novo.
A chegada do misterioso dono de circo muda todo o cenário. O chinês de 7.322 anos traz figuras exóticas ao seu espetáculo e procura mostrar a verdade aos moradores de Avalone. A única pessoa que está contra a venda das terras é o editor Ed Cunningham (John Ericson), que procura mostrar a todos quem é verdadeiramente Stark. Com isso é perseguido. Dr. Lao chama todos a visitarem seu circo, e um a um, mostra o quanto estão errados.

Todos se atraem para o circo exótico. Um dos momentos mais marcantes é quando a bibliotecária Angela Benedict (Barbara Eden) adentra no circo e se excita ao ver o deus Pa dançando. Uma mulher extremamente reprimida, Angela abre mão de seus desejos e passa seus dias a lamentar a morte precoce de seu marido. Ela está encantada pelo circo e pelo deus Pá, que magicamente se transforma durante a dança no editor Ed Cunningham. O filme é uma excelente oportunidade de vislumbrar uma Barbara pré Jeannie, seu papel de maior sucesso na série televisiva.

Uma das personagens que mais me dão pena é Kate Lindquist  (Minerva Urecal), uma rica senhora que se ilude com falsas promessas de videntes que lhes mostram dias melhores. Ela não terá a mesma sorte com Apollonius of Tyana (Tony Randall), que não tardará a revelar o triste fim destinado à pobre senhora iludida. Sua falsa alegria e estabanação escondem uma mulher frívola, frustrada e com pensamentos pequenos demais.

No grand finale, Lao mostra a todos um filme sobre uma cidade tomada pelo egoísmo e ganância. Os personagens da cidade fictícia são sósias dos moradores de Avalone, e o chinês mostra através de metáforas o fim deste povo que cedeu à ganância de um certo senhor que é a cara de Stark.

O filme baseado na obra de Charles G. Finney é uma metáfora sobre o poder e os desejos ocultos, e o quanto cada um de nós pode contribuir para piorar as coisas um pouco mais. Seus personagens exemplificam muitas personalidades que vemos aos montes por aí e que permanecem atuais até os dias de hoje. Esse clássico, porém, não foi muito bem na bilheteria, e seu diretor iria amargar um hiato de quatro anos até que produzisse outro filme. George Pal, no entanto, jamais voltaria a dirigir.

A animação do monstro de Loch Ness levou 11 dias para ser realizada em stop-motion, e rendeu ao filme um Oscar de Melhores efeitos especiais. Outro grande destaque foi para a maquiagem de William Tuttle, que recebeu um Oscar honorário.
* O filme está sendo lançado pela Classicline em um dvd que traz a dublagem original e também é legendado e pode ser adquirido em qualquer loja do ramo, ou na Livraria Cultura.

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