Tony Randall se desdobrou para fazer oito personagens em As Sete Faces do Doutor Lao: Além de Lao, ele foi o homem das neves, o mago Merlin, Apollonius, Pã, a serpente gigante, a Medusa e um membro da assistência. E embora não tenha sido a primeira opção ~ Peter Sellers estava cotado para assumir o protagonismo do filme ~ mostrou que era o grande nome da história.
Arthur O’Connell interpreta Clint Stark, o magnata esperto que deseja intensamente acumular posses e poder. Ele está disposto a enriquecer e utiliza-se de informações confidenciais para comprar as terras dos moradores da cidade. Stark sabe que a cidade será valorizada pela construção de uma estrada de ferro, e aproveita-se disso para comprar os lotes por um preço bem baixo. Corruptos como são, os moradores estão dispostos a vender tudo o que possuem. Nada novo.
Todos se atraem para o circo exótico. Um dos momentos mais marcantes é quando a bibliotecária Angela Benedict (Barbara Eden) adentra no circo e se excita ao ver o deus Pa dançando. Uma mulher extremamente reprimida, Angela abre mão de seus desejos e passa seus dias a lamentar a morte precoce de seu marido. Ela está encantada pelo circo e pelo deus Pá, que magicamente se transforma durante a dança no editor Ed Cunningham. O filme é uma excelente oportunidade de vislumbrar uma Barbara pré Jeannie, seu papel de maior sucesso na série televisiva.
Uma das personagens que mais me dão pena é Kate Lindquist (Minerva Urecal), uma rica senhora que se ilude com falsas promessas de videntes que lhes mostram dias melhores. Ela não terá a mesma sorte com Apollonius of Tyana (Tony Randall), que não tardará a revelar o triste fim destinado à pobre senhora iludida. Sua falsa alegria e estabanação escondem uma mulher frívola, frustrada e com pensamentos pequenos demais.
No grand finale, Lao mostra a todos um filme sobre uma cidade tomada pelo egoísmo e ganância. Os personagens da cidade fictícia são sósias dos moradores de Avalone, e o chinês mostra através de metáforas o fim deste povo que cedeu à ganância de um certo senhor que é a cara de Stark.
O filme baseado na obra de Charles G. Finney é uma metáfora sobre o poder e os desejos ocultos, e o quanto cada um de nós pode contribuir para piorar as coisas um pouco mais. Seus personagens exemplificam muitas personalidades que vemos aos montes por aí e que permanecem atuais até os dias de hoje. Esse clássico, porém, não foi muito bem na bilheteria, e seu diretor iria amargar um hiato de quatro anos até que produzisse outro filme. George Pal, no entanto, jamais voltaria a dirigir.