10 de junho de 1969: no seu último aniversário, a legendária Judy Garland estava sozinha. Judy se tornou conhecida por seus papéis em O Mágico de Oz e Nasce uma Estrela.
Sua carreira no cinema já havia declinado há anos, e ela sobrevivia fazendo alguns shows. As dívidas se acumulavam aos montes, o quinto casamento, com o músico Mickey Deans não ia muito bem. A atriz entregava-se cada vez mais aos vícios, a bebida e os remédios controlados e sofria com a depressão. Segundo a biografia de David Shipman (Judy Garland: A primeira biografia completa), ela ainda alimentava sonhos: queria ser uma estrela da Broadway.
Mas o tempo era curto. Problemas com alcoolismo, depressão que a acompanhou por toda a vida e medicamentos, fizeram com que se tornasse uma pessoa instável. Os empresários, temerosos, já não a contratavam para os shows, devido aos constantes atrasos e ausências. Contratar Judy Garland tornava-se um tiro no escuro. A atriz e cantora perdia a voz e os contatos. Virava-se na vida.
Um documentário invasivo filmado por seu último marido
Mesmo assim ela tentava. E assim permitiu ser filmada para o triste documentário “A Day in the Life of Judy Garland”, projeto do seu marido-playboy Mickey Deans. O documentário, que trazia a atriz em momentos caóticos de sua vida, causava vergonha alheia ao mostrar Garland bêbada, nua, desafinando em um de seus shows e era triste.
Triste sob vários aspectos, porque mostrava uma Judy que mal cabia dentro de um corpo delicado e frágil. De tão ruim que era, não houve ninguém que se interessasse pelo projeto, que acabou se tornando mais um fiasco na vida da intérprete de O Mágico de Oz.
Judy também sofria pelo desprezo dos filhos. Exausta também pelos excessos da mãe, Liza Minnelli que residia na América, proibira que lhe passassem as ligações da mãe, que passava um período em Londres. Joey e Lorna, menores, estavam com os pais e também não tinham muito contato com a mãe.
Os três só foram se reencontrar quando souberam da morte da mãe. Liza Minnelli assumiu as despesas do funeral. Alguns anos depois Lorna Luft lançou “Me and My Shadows : a Family Memoir“, um livro de memórias que parecem mais fantasiosas do que reais, onde Lorna narra nos mínimos detalhes momentos que ela não tem como provar que aconteceram daquela maneira.
Dentre outras coisas ela informa que cuidava da mãe a ponto dela própria adoecer e enaltece o caráter do seu pai, Sidney Luft, o marido e empresário que por diversas vezes chegou a bater em Judy Garland e a explorava financeiramente. Os direitos do livro de Lorna foram vendidos e viraram um filme para a TV chamado “Life with Judy Garland: Me and My Shadows (2001)”, com Judy Davis no papel da eterna Dorothy.
No livro, Lorna relata que os filhos ligaram para a mãe no dia de seu aniversário. Juntos, sorridentes, e que a mãe estava muito bem. Mas não foi bem assim que tudo ocorreu. Eles não tinham mais contato, conforme explicita David Shipman em seu livro. E assim, doze dias após seu aniversário, no dia 22 de junho de 1969, Garland era encontrada morta no banheiro da residência simples que alugara em Londres. O corpo exausto, e sem forças para lutar contra o vício que carregava há anos: remédios.
Em que determinado momento a garotinha que nos encantou em O Mágico de Oz começou a morrer? Eu me arriscaria a dizer que foi no exato momento em que foi oferecida a primeira pílula, ainda enquanto ela trabalhava em seus primeiros filmes. O vício que aplacava temporariamente seus temores, foi também a causa de seu destempero e de seus caminhos tortuosos durante toda sua vida.
No último aniversário de sua vida, Judy Garland estava sozinha, assim como muitos dias de sua vida. Apenas mais um de sua curta existência.
Fontes:
Documentário: A Day in the Life of Judy Garland, Mickey Deans
Filme: Life with Judy Garland: Me and My Shadows (2001), de Robert Allan Ackerman
Livro: Judy Garland: A primeira biografia completa, David Shipman
Livro: Me and My Shadows : a Family Memoir, de Lorna Luft
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