Como Era Verde Meu Vale versa sobre a simplicidade e as reminiscências da vida de uma família em uma pequena vila. O caráter do personagem principal foi moldado pela convivência com pessoas que buscavam sobreviver em meio a uma comunidade simples, porém cheia de vida, mas que não resistiu aos problemas trazidos pela evolução dos tempos. O filme traz a poética de um homem que relembra a sua infância e os seus, correndo pelos vales e observando mais uma vez o destino de cada um de seus parentes.
Baseado no romance de Richard Llewellyn, através de reminiscências, o filme narra a história dos Morgans, família que trabalha em uma mineração. A narração é realizada sob os olhos de Huw, o mais novo dos filhos. Sua mãe é uma mulher que com seu jeito suave e amoroso conduz os filhos ao lado de seu marido, o chefe do clã. Seus irmãos são trabalhadores e buscam o crescimento. Sua irmã, Angharad (Maureen O’Hara), apaixona-se por um homem, e vê sua vida desabar ao ser prometida a outro. Um dos grandes momentos da película é justamente aquele em que ela, vestida de noiva e de mãos dadas com o marido, desce as escadarias da igreja enquanto seu amado observa de longe. O seu véu voa em espiral, e temos um dos momentos mais belos já produzidos no cinema.
A aparente simplicidade da cena, conforme entregou Maureen anos depois, foi resultado do dom de John Ford em produzir, com esmero momentos de extrema sensibilidade. Ventiladores foram colocados para que seu véu pudesse de fato voar daquela maneira, e a cena foi repetida para que se chegasse ao resultado ideal. Lembrando que o diretor era conhecido por justamente por não utilizar-se de mais de uma tomada, temeroso que era de que seu material fosse para as mãos dos produtores e dali alterassem seu material durante a montagem. Sim, John Ford era um homem dos antigos tempos.
O pequeno é interpretado por Roddy McDowall, que aos 13 anos entregava ser um grande ator nesse que foi seu primeiro filme de destaque. Mostrando firmeza ao personagem principal da trama, traz emoção à cena em que apanha de seu professor por ser pobre. A visão sobre a escola é de uma crueldade, ao mostrar o professor como alguém que castra os posicionamentos e que incentiva a luta entre classes, apoiando que outros garotos o discriminem por sua posição. Sorte que ele tem irmãos e vizinhos que tomam suas dores, e não o deixarão passar por humilhações que, com certeza, iriam arruinar sua alma. É confortante ver como todos se unem para defendê-lo.
As mudanças sócio-econômicas produzem um efeito direto sobre a família, que mesmo repleta de amor e consideração, começa a se desintegrar. Os incidentes provocam mudanças inevitáveis, os contratempos mudam as opiniões e o desemprego amplia a necessidade de luta de alguns. A disputa por um lugar ao sol trazem tragédias pessoais e sociais. Os cenários ao ar livre com suas casas enfileiradas e as minas de carvão apesar do caráter irlandês foram construídos entre as colinas de Malibu, na Califórnia. Originalmente as filmagens iriam ser feitas em technicolor, em um padrão parecido com E o Vento Levou, mas a chegada da segunda guerra mundial, e a consequência crise ocasionada pela mesma impossibilitou qualquer produção mais cara.
Ford, que ficou imensamente conhecido por seus westerns, sempre foi um dos mais versáteis cineastas americanos, fazendo dramas, comédias e até musicais com a mesma competência que entregava-se aos faroestes que fazia ao lado de John Wayne. Com uma obra que abrange mais de 146 produções desde a época do cinema silencioso, ganhou força com filmes como Stagecoach (1939) , As Vinhas da Ira (1940) e o celebrado The Searchers (1956). Com este filme, o diretor se tornou o primeiro a ganhar três prêmios da Academia. Anteriormente já os tinha recebido por sua contribuição em O Delator (1935) e Vinhas da Ira (1940). O quarto prêmio viria somente com Depois do Vendaval (1952), que trazia também Maureen O’Hara.