Relembrando Sonja Henie, a primeira e única patinadora em Hollywood

2020

Aos 14 anos ela já brilhava nas pistas de patinação. Não demorou muito tempo para que essa norueguesa mudasse para Hollywood e conquistasse o mundo. Conheça a trajetória de Sonja Henie, a patinadora, atriz e empresária que se tornou uma das mulheres mais ricas do mundo mas não escapou do escândalo de ser considerada uma aliada de Hitler.

 

Sonja Henie tinha alguns apelidos curiosos: Pavlova do Gelo, A Rainha Gelada da Noruega e Cisne Branco, dentre outros. Iniciou sua fama como patinadora, mas sua história parecia traçada desde o nascimento. Ela nasceu em 8 de abril de 1912 em Oslo, Noruega. Seu pai, Wilhelm Henie, era um campeão mundial de ciclismo e, melhor do que isso, um riquíssimo comerciante de peles.

Para você ter ideia, a família era bastante conhecida no ramo, vendendo peles para ricos, famosos e até reis. Sendo assim, sobrava dinheiro para que ele e sua esposa Sema Nielsen investissem na pequena Sonja, que desde muito pequena, começou a praticar esportes. Aos quatro anos ela dava suas primeiras voltas em pistas de patinação, e aos 10 estava competindo e acumulando experiência.

Sonja Henie, 1928

Aos onze anos ela venceu o campeonato norueguês. Em 1926 seria segunda no Campeonato Mundial de Patinação. Mas a partir de 1927 ela ganharia cada uma das competições mundiais até 1936. A primeira medalha olímpica veio em 1928, seguida de 1932 e 1936.

Confira esse vídeo que traz a patinadora em 1928:

Sonja renovou a patinação ao trazer piruetas modernas e coreografias originadas das aulas que tivera com a famosa professora Tamara Karsavina. O dinheiro facilitava sua vida, mas apesar de vários prêmios em campeonatos, ela também ficou famosa pela controvérsia envolvendo seu terceiro título olímpico de 1936, onde muitos acreditavam que ela não deveria ter ganho.

Seus títulos também a tornaram conhecida em vários pontos não só da Europa, mas também na América. E foi assim que Sonja decidiu que estava pronta para investir em uma nova carreira: a do cinema. Acostumada a vencer sempre e a ter tudo do bom ou do melhor, ela não se venderia por pouco.

 Sonja parte para a capital do Cinema!

Sonja Henie e Tyrone Power em Second Fiddle (1939)

Se aos 14 ela já estava pronta para ser a rainha da patinação, aos 24 queria dominar o mundo. Ao partir para a América já dava como certo um contrato milionário com a Twentieth Century Fox. Em um ano deveria aparecer em dois filmes que lhe renderiam 250.000 dólares. Cinco mil semanais era mais do que as atrizes iniciantes recebiam. A cifra era aumentada com pequenas exibições que custavam 327.000 dólares. Posteriormente esses números dobrariam, tornando-a uma das mulheres mais ricas de sua época.

Em suma, Sonja jamais saía de casa se não fosse para receber algo em troca. Até mesmo participações na rádio e festas eram devidamente cobradas. A atriz que falava norueguês, alemão, inglês e francês também era uma assídua leitora e colecionadora de artes.

Logo ela aparecia em jantares e festas acompanhada de Tyrone Power, o solteiro mais cobiçado da época. Não há realmente uma comprovação disso, mas muito se fala que os dois não passaram de bons amigos.

Naquele período (e em posteriores) era bastante comum que o estúdio arranjasse pares para seus atores e atrizes, unindo-as em fantasiosos romances que vendiam muitas revistas. Ainda mais que os dois protagonizariam em 1937 a película Ela e o Príncipe (Thin Ice, 1937), segundo filme dela em Hollywood.

Patinação parecia em moda em Hollywood, e ela faria filmes bem específicos onde interpretava mocinhas que invariavelmente vestiam belas roupas e patinavam lindamente nas pistas. Era um espetáculo de dança que não escondia o quanto ela era péssima atriz. Aproveitada em comédias musicais, sua fraca atuação ficava mais clara quando exigia-se dela em cenas mais dramáticas. Mas, quem queria saber disso?
Grace Kelly, Oleg Cassini, Sonja Henie e Cesar Romero.
A patinadora conseguia levar muitos fãs ao cinema com filmes medianos como: A Rainha do Patim (One in a Million, 1936), My Lucky Star (1938), Repetindo a dupla com Tyrone Power em Dúvidas de um Coração (Second Fiddle, 1939), It’s a Pleasure (1945), seu único filme em cores e Iceland (1942).

De olho nesse público que consumia suas danças, ela aproveitou.  A Condessa de Monte Cristo (1948) seria seu último filme, mas nesse período Sonja já estava estabelecida como uma empresária muito bem sucedida, que levava espetáculos no gelo por todo o país, o “Hollywood Ice Revue” e “Sonja Henie Ice Revue” na década seguinte.

No final da década de 50 o público já demonstrava cansaço desse tipo de espetáculo. A atriz também apresentava problemas pessoais, que aliados ao alcoolismo, faziam com que ela não tivesse mais a mesma graça que antes. Sonja ainda pensava em retornar ao cinema, mas tudo se revelou um grande fracasso.

Sonja apoiava o nazismo?

 

Sonja Henie também teve seu nome envolvido em um grande escândalo que lhe acompanharia durante toda a vida e que ainda hoje é alvo de especulações: uma possível simpatia com o nazismo.

Tudo começou em 1936, quando ela foi informada que Hitler estava na platéia em sua apresentação em Berlin. Ela foi até ele e o Führer a cumprimentou com a saudação nazista. A multidão foi abaixo e os jornais questionavam se ela apoiava o ditador. Aquele momento caiu como um véu negro em sua vida. Segundo especulações, ela também teria aceitado participar de jantares e festas organizadas por Hitler, além de ter recebido um poster autografado.

Sonja e Hitler

Ao longo de toda a sua vida, Sonja se acostumou a ver líderes mundiais em seus shows, e os cumprimentava com a mesma reverência. Mas ser simpático com um nazista não caíam muito bem, sobretudo quando sua casa na Noruega deixou de ser invadida quando os soldados viram o poster autografado de Hitler em cima de um piano. Isso fez com que ela fosse tratada como uma traidora pelos noruegueses durante um bom tempo.

Segundo seu irmão sim. Ela nem sabia o que era nazismo. Para o patinador Dick Button, ela era uma aproveitadora, e teria se unido a qualquer um que lhe possibilitasse ganhar dinheiro e fama.

Mais tarde, quando se naturalizou cidadã americana, Sonja evitava tocar no assunto, e em declarações públicas sempre demonstrava horror ao nazismo. Ignorância por parte dela? Não sei. Mas o fato é que em 1954 ela tocou novamente no assunto em sua autobiografia, defendendo-se ao dizer que nunca o cumprimentou com a saudação nazista…

 

Vida Pessoal e Últimos Dias

Apos terminar seu suposto romance com Tyrone Power (ele se apaixonou em 1938 por Annabella, atriz francesa com quem atuou em Suez), ela teria uma série de namoricos e se casaria três vezes.

Seu primeiro marido foi Dan Topping, dono do time de beisebol, New York Yankess. Os dois se conheceram em 1939, se casariam em 1940. A separação viria seis anos depois. Ela foi a terceira das seis esposas de Dan. Winthrop Gardner, herdeiro da Ilha Gardiners,  foi seu segundo marido. Os dois estiveram juntos entre 1949 a 1956. Niels Onstad foi seu último marido. O casamento com o magnata duraria entre 1956 e 1969, ano da morte da patinadora.

Todos os seus maridos tinham algo em comum. Eram ricos e não trabalhavam, aproveitando a vida usufruindo do dinheiro de Sonja.

Nem só de trabalho se faz a vida. Nas horas vagas Sonja não economizava. Gostava de andar sempre arrumada e na moda e de usar jóias caras. Suas casas também registravam algumas das festas mais extravagantes de Hollywood, onde os convidados se fartavam com a melhor bebida e comida da cidade.

Mas com o tempo ficava claro que essas festas e as naturais frustrações do avanço da idade a tornaram uma pessoa complicada. Sonja começou a beber. Refugiava-se também na compra de objetos de arte. Começou também a colecionar animosidades quando insistia em ser a única a brilhar em seus espetáculos. Logo estes começaram a dar prejuízo, mas nada que interferisse em sua riqueza.

Sonja e Henie Onstad

Ela tinha medo de retornar à sua terra devido à fama com Hitler. Mas em 1953 finalmente voltou e teve seus shows esgotados. Aos 45 anos Sonja já não estava no auge de sua boa forma, sua habilidades diminuíam drasticamente. Esse foi um momento crucial, reconhecer que aquilo que lhe consagrou enfraquecia-se a cada dia que passava.

Finalmente ela se aposentou em 1956, ano em que se casou pela terceira vez. Os dois se conheciam desde a infância e ele tinha muito dinheiro, claro. Ela aproveitou a aposentadoria para correr o mundo e a fazer mais festas onde contava com presenças vips como Cary Grant, Liberace e Joan Crawford.

Sonja e o marido aproveitavam para aumentar a coleção com obras de Matisse, Miró, Rouault e outros. Em meados de 1968 ela aparentemente ficou resfriada mas jamais chegou a se curar.

Seu marido escondeu o quanto pode a verdade, ela estava com leucemia. Para ela, se tratava de uma forte anemia, o que justificava suas constantes transfusões de sangue. E foi durante um voo entre Oslo e Paris que ela faleceu. Era 12 de outubro de 1969 e ela tinha 57 anos. Não teve filhos, mas deixou uma grande fortuna.

Fontes: Memoriabn, SNLproskatinghistoricalfoundation, Vanityfair, IMDBWashingtonpost

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