10 de maio de 2025

Gypsy (1962): A História Real por Trás do Clássico Musical de Natalie Wood

Descubra por que ‘Gypsy’ (1962), com Natalie Wood e Rosalind Russell, continua sendo um marco do cinema musical. Baseado na vida real de Gypsy Rose Lee.

Gypsy (1962)

Apesar de não ser muito lembrada hoje em dia, Gypsy Rose Lee (1911 – 1970) foi uma importante artista burlesca americana. A atriz começou a trabalhar muito cedo, ainda na primeira infância, ao lado de sua irmã, a também atriz June Havoc. As duas eram exploradas pela mãe, Rose Evangeline, que chegava a falsificar seus documentos para elas serem contratadas para trabalhar na noite como artistas. Lee se tornou conhecida, sobretudo, após a partida de sua irmã que fugiu para se casar, e por seu famoso striptease, uma marca sua, e que segundo ela teria surgido por acaso, quando a alça de seu vestido acidentalmente se rompeu. O público foi ao delírio e Lee passou a repetir o gesto a cada apresentação, tornando-se sucesso absoluto.

A verdadeira Gypy Rose Lee
Devido ao sucesso, ela recebeu vários convites para atuar nas telas, mas não mostrou ser boa atriz e teve um sucesso relativo, chegando inclusive a escrever roteiros para as telas. Paralelamente à vida nos palcos, Gypsy era escritora e chegou a fazer três livros, sendo o mais famoso sua autobiografia, escrita após a morte da mãe em 1957. Na biografia ela conta aspectos de sua vida ao lado da tirânica progenitora e da irmã. O livro e posterior peça causou a indignação da irmã que não aceitava a forma como ela mesma era mostrada. Após um acordo financeiro June finalmente aprovou o material e mais tarde escreveu sua própria versão da história.
Em 1962 a biografia chegava às telas, dirigida por Mervyn LeRoy, que dirigiu filmes como O Mágico de Oz (1939), A Ponte de Waterloo (1940) e Tara Maldita (1956), só para citar alguns dos sucessos de sua extensa carreira. Gyspy conta a história da ascensão de Gypsy como artista, ao lado de sua irmã June, verdadeira estrela da família. Ann Jillian interpreta June.
Após a atriz e cantora Ann-Margret ser sondada para o papel principal, Natalie Wood, que também iniciara a carreira ainda criança, e seguia uma carreira sólida após participações em Juventude Transviada (1955), Clamor do Sexo (1961) e o mais recente, o também musical Amor, Sublime Amor (1962) foi contratada.
Para compor a personagem, Wood recebeu dicas com a própria Lee, que visitava constantemente os bastidores de filmagens. A atriz trouxe uma interpretação apaixonante e adulta, e chegou a ser indicada ao Globo de Ouro naquele ano, não levando. Contudo, sua personagem aparece pouco na primeira parte, e quem brilha realmente é Rosalind Russell. Com a chegada da idade adulta de Lee, Natalie pode finalmente a que veio e mostra porque era considerada uma das queridinhas do público da década de 60, com seu jeito meigo de atuar. O número musical Little Lamb é um dos momentos mais doces do filme, com uma Natalie interpretando uma ainda jovem Gypsy Rose Lee.
Judy Garland foi cogitada para o papel, e sem dúvida seria uma ótima escolha, já que não precisaria ser dublada (Russell foi dublada por Lisa Kirk) e Judy Holiday foi a segunda escolha. Mas esse acabou sendo o menor dos problemas e Russell mostrou porque era considerada ainda uma das melhores atrizes vivas. Contemporânea da própria Lee, fez enorme sucesso nas décadas de 30 e 40 e essa seria uma de suas últimas performances nas telas. Com o papel da Mama Rose, Russell receberia um Globo de ouro de Melhor atriz neste ano. A personagem da Mama é o grande destaque do filme como um todo, embora o filme ganhe com a presença de Natalie Wood na segunda parte da película.
Completando o trio de do elenco principal, não podemos deixar de citar Karl Malden (Uma Rua Chamada Pecado e Sindicato dos Ladrões), um ator que apesar de quase nunca protagonizar os filmes sempre tinha atuações corretas e de destaque, desta vez como Herbie Sommers.
Um fato a observar é que o filme não é cansativo, embora a teoricamente personagem principal Gypsy demore um pouco para tomar o protagonismo. Os figurinos são um espetáculo e são assinados por Orry-Kelly , que naquele momento gozava de grande prestígio. O estilista chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Figurino em Cores naquele ano.
A direção de arte é fabulosa, sobretudo nas cenas de teatro e detalhes dos cenários, contudo temos que fazer uma ressalva aqui. Todas as cenas foram feitas em estúdio, inclusive aquelas que necessitavam de locações externas. Um dos momentos principais é quando Mama Rose descobre que June casou-se e a abandonou, e a cena é realizada numa estação de trem feita inteiramente em estúdios. Isso dá um caráter artificial que prejudica bastante a cena, e até o áudio (que provavelmente não foi dublado) aparece com um eco típico de ambientes fechados. Difícil manter a concentração com todo gelo seco ao redor das pessoas. Mas isso não era uma característica isolada deste filme, e sabemos que os estúdios preferiam fazer cenas internas mesmo, sendo raro um filme que tivesse cenas feitas in loco, que saíam mais caro e tinham que obter diversos tipos de autorização.

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