O Neorrealismo Italiano: A Revolução Cinematográfica que Mudou o Cinema
Explore o Neorrealismo Italiano, suas obras-primas e diretores que transformaram o cinema ao focar em temas sociais, influenciando gerações de cineastas ao redor do mundo.

Roma, Cidade Aberta (Roma, città aperta, 1945): Essa imagem de Anna Magnani é uma das mais perfeitas do cinema. Um dos líderes da resistência se esconde dos nazistas. Ele tem em suas mãos um milhão de liras para seus companheiros. Ele pretende repassar o dinheiro através de um padre, mas algo pode dar errado.
Na capa, Roma, Cidade Aberta (1945), com Anna Magnani, musa do neorrealismo. Para Roberto Rossellini, o neorrealismo é uma forma de, em um momento de pós-guerra, de ruína da Itália, de total miséria (squalore ), dizer “ainda podemos fazer algo”, “em meio ao que parece nada, em meio a uma cidade quebrada pela guerra, os homens ainda produzem e sobrevivem”. O movimento era, então, uma tentativa de democratização do artesanato do filme.
O movimento surgiu na Itália com o fim da Segunda Guerra Mundial. Em um país que estava caótico e se recuperando após o longo governo fascista (1922 – 1945). Com o final da guerra, houve uma mudança econômica e social na população, com grande parcela do povo passando necessidades e desempregada. Anteriormente, os filmes focavam mais em questões moralistas e com histórias romanceadas que mostravam uma falsa imagem da sociedade.

Em contraste com tudo isso, o cineasta neorrealista trabalhava com o que tinha em mãos. Sem necessidade de agradar ao governo do país, mostrava a sociedade tal como ela se apresentava, fazendo um retrato da verdade, com filmes que seriam quase documentários.
Para que isso ficasse mais claro, constantemente eram utilizados atores não profissionais , que muitas vezes utilizavam sua própria fala. Os personagens eram tão humanos, com suas falhas e qualidades, que os tornavam quase reais.
Com a escassez de financiamentos, os cenários eram feitos in loco , com poucos ou nenhum local fabricado para a execução das cenas. Constantemente também eram aproveitados restos de filmes e pedaços de rolo. Não havia efeitos especiais; o plano era colocar uma câmera na mão e fazer o filme com o som direto.
A estrutura narrativa evita as convenções clássicas de continuidade, muitas vezes não tendo uma linearidade ou explicação prévia das atitudes dos personagens, que têm uma atuação mais perene e nunca exagerada.
O termo neorrealismo foi empregado pela primeira vez em 1942, quando Umberto Barbaro o citou na Revista Cinema, referindo-se ao novo movimento como autêntico, revolucionário, engajado e antifascista.
Mas no cinema, o movimento teve início em 1945 com o lançamento de Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rossellini. Ao contrário do que se esperava, o filme teve uma recepção fria do público, que não considerava pagar para ver o que sempre viam na vida deles: miséria. Mas podemos observar que houve uma evolução, com o cinema pela primeira vez dando vez e voz aos oprimidos. Dentre os principais expoentes estão Roberto Rossellini, Luchino Visconti , Giuseppe De Santis , Renato Castellani , Luigi Zampa e Vittorio De Sica , com seu aclamado Ladrão de Bicicletas.
O movimento influenciou cineastas de todo o mundo, rompendo fronteiras. Satyajit Ray , na Índia, seguiu o mesmo conceito, adaptando-o à realidade de seu país. Ele retratou em seus filmes as tradições, os conflitos entre o novo e o velho e os mitos da antiga Índia, um país pobre que até hoje ainda vive em dificuldades.

Nelson Pereira no Brasil também teve suas obras influenciadas pelo neorrealismo. Vidas Secas, de 1963 é um exemplo claro da influência, ao mostrar a vida de uma família de retirantes em meio a seca e fome do nordeste.
O neorrealismo começou a perder forças na década de 50, com a melhora nas condições de vida na Itália. A Itália ainda veria ecos do movimento nas próximas décadas, sobretudo nos primeiros filmes realizados por Federico Fellini.