O Neorrealismo Italiano

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Para Rosselini, o neorrealismo é uma forma de, em um momento de pós-guerra, de ruína da Itália, de total miséria (squalore), dizer “ainda podemos fazer algo”, “em meio ao que parece nada, em meio a uma cidade quebrada pela guerra, os homens ainda produzem e sobrevivem”. O movimento era então, uma tentativa de democratização do artesanato do filme.

O movimento surgiu na Itália com o fim da Segunda Guerra Mundial. Em um país que estava ainda caótico e se recuperando após o longo governo fascista (1922 – 1945). Com o final da guerra, houve uma mudança econômica e social na população, com grande parcela do povo passando necessidades e desempregada. Anteriormente os filmes focavam mais em questões moralistas e com histórias romanceadas que mostravam uma falsa imagem da sociedade.

Vittorio De Sica, Rosselini e Fellini

Em contraste com tudo isso, o cineasta neorrealista trabalhava com o que tinha em mãos. Sem necessidade de agradar ao governo do país, mostrava a sociedade tal como ela se apresentava, fazendo um retrato da verdade, com filmes que seriam quase documentários.

Para que isso ficasse mais claro, constantemente eram utilizados atores não profissionais, que muitas vezes utilizavam de sua própria fala. Os personagens eram tão humanos com suas falhas e qualidades que os tornavam quase reais.

Com a escassez de financiamentos, os cenários eram feitos in loco, com poucos ou nenhum local fabricado para a execução das cenas. Constantemente também eram aproveitados restos de filmes e pedaços de rolo. Não havia efeitos especiais, o plano era colocar uma câmera na mão e fazer o filme com o som direto.

A estrutura narrativa evita as convenções clássicas de continuidade, muitas vezes não tendo uma linearidade ou explicação prévia das atitudes dos personagens que tem uma atuação mais perene e nunca exagerada.

O termo neorrealismo foi empregado pela primeira vez em 1942, quando Umberto Barbaro o citou na Revista Cinema, referindo-se ao novo movimento como autêntico, revolucionário, engajado e antifascista.

Roma, Cidade Aberta (1945), com Anna Magnani, musa do neorrealismo
Mas no cinema, o movimento teve início em 1945 com o lançamento de Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rosselinni. Ao contrário do que se esperava, o filme teve uma recepção fria do público, que não considerava pagar para ver o que sempre viam na vida deles: miséria. Mas podemos observar que houve uma evolução, com o cinema pela primeira vez dando vez e voz aos oprimidos.Dentre os principais expoentes estão Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Giuseppe Di Santis, Renato Castellani, Luigi e Vittório De Sica, com seu aclamado Ladrão de Bicicletas.

O movimento influenciou cineastas de todo o mundo, rompendo fronteiras. Satyajit Ray, na Índia, seguiu o mesmo conceito, adaptando-o à realidade de seu país. Ele retratou em seus filmes as tradições, os conflitos entre o novo e o velho e os mitos da antiga Índia, um país pobre que até hoje ainda vive em dificuldades.

Vidas Secas, 1963, de Nelson Pereira dos Santos

Nelson Pereira no Brasil também teve suas obras influenciadas pelo neorrealismo. Vidas Secas, de 1963 é um exemplo claro da influência, ao mostrar a vida de uma família de retirantes em meio a seca e fome do nordeste.

O neorrealismo começou a perder forças na década de 50, com a melhora nas condições de vida na Itália. A Itália ainda veria ecos do movimento nas próximas décadas, sobretudo nos primeiros filmes realizados por Federico Fellini.

Filmes do Movimento *

• 1945: Roma, Città Aperta [Roma, Cidade Aberta] – Roberto Rossellini
• 1946: Sciuscià [Shoeshine] – Vittorio De Sica
• 1946: Paisà [Libertação] – Roberto Rossellini
• 1946: Il Bandito [O Bandido] – Alberto Lattuada
• 1946: Un Giorno nella Vita [Um Dia na Vida] – Alessandro Blasetti
• 1946: Il Sole Sorge Ancora – Aldo Vergano
• 1947: Caccia Tragica [Tragic Hunt] – Giuseppe De Santis
• 1947: Gioventù Perduta [Lost Youth] – Pietro Germi
• 1948: Senza Pietà [Sem Piedade] – Alberto Lattuada
• 1948: Germania Anno Zero [Alemanha Ano Zero] – Roberto Rossellini
• 1948: Ladri di Biciclette [Ladrões de Bicicletas] – Vittorio De Sica
• 1948: La Terra Trema [A Terra Treme] – Luchino Visconti
• 1948: In Nome della Legge [Em Nome da Lei] – Pietro Germi
• 1948: Sotto il Sole di Roma [Sob o Céu de Roma] – Renato Castellani
• 1948: Anni Difficili [Difficult Years] – Luigi Zampa
• 1948: Fantasmi del Mare – Francesco De Robertis
• 1949: Riso Amaro [Arroz Amargo] – Giuseppe De Santis
• 1949: È Primavera [Primavera] – Renato Castellani
• 1949: Il Mulatto – Francesco De Robertis
• 1950: Stromboli Terra Di Dio [Stromboli] – Roberto Rossellini
• 1950: Non c’è Pace tra gli Ulivi [Não Há Paz Entre as Oliveiras] – Giuseppe De Santis
• 1950: Il Cammino della Speranza [O Caminho da Esperança] – Pietro Germi
• 1950: Gli amanti di Ravello [aka Fenesta ca’ lucive] [Ravello’s Lovers] – Francesco De Robertis
• 1950: Domenica d’agosto [Domingo de Agosto] – Luciano Emmer
• 1951: Bellissima [Belíssima] – Luchino Visconti
• 1951: Achtung! Banditi! [Attention! Bandits!] – Carlo Lizzani
• 1951: Miracolo a Milano [O Milagre de Milão] – Vittorio De Sica
• 1952: Europa ’51 [Europa 51] – Roberto Rossellini
• 1952: Roma Ore 11 [O Pão Nosso de Cada Dia] – Giuseppe De Santis
• 1952: Due soldi di Speranza [Dez Réis de Esperança] – Renato Castellani
• 1952: Processo Alla Città [Processo Contra a Cidade] – Luigi Zampa
• 1952: Carica Eroica [Heroic Charge] – Francesco De Robertis
• 1952: Umberto D. [Humberto D] – Vittorio De Sica
Filmes Neo-realistas italianos posteriores a 1952:
• 1953: I Vitelloni [Os Inúteis] – Federico Fellini
• 1953: Stazione Termini [Estação Terminus] – Vittorio De Sica
• 1953: Viaggio in Italia [Viagem em Itália] – Roberto Rossellini
• 1953: I Sette dell’Orsa Maggiore [Os Sete da Ursa Maior] – Francesco De Robertis
• 1953: Siamo Donne [Nós, Mulheres] – Gianni Franciolini, Alfredo Guarini, Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Luigi Zampa
• 1954: La Strada [A Estrada] – Federico Fellini
• 1954: Cronache di Poveri Amanti [Chronicle of Poor Lovers] – Carlo Lizzani
• 1955: Gli Sbandati [Os Evadidos] – Francesco Maselli
• 1955: Il Tetto [O Tecto] – Vittorio De Sica
• 1956: Il Ferroviere [O Ferroviário] – Pietro Germi
• 1957: Il Grido [O Grito] – Michelangelo Antonioni
• 1958: Ragazzi della Marina – Francesco De Robertis
• 1960: Era notte a Roma [Era Noite em Roma] – Roberto Rossellini
• 1960: Rocco e i Suoi Fratelli [Rocco e Seus Irmãos] – Luchino Visconti
• 1961: Accattone – Pier Paolo Pasolini
• 1961: Il Posto – Ermanno Olmi
Filmes considerados precursores do Neo-realismo italiano:
• 1927: Konets Sankt-Peterburga [The End of St Petersburg] – Mikhail Doller, Vsevolod Pudovkin (União Soviética)
• 1930: Menschen am Sonntag [People on Sunday] – Robert Siodmak, Edgar G. Ulmer (Alemanha)
• 1933: Las Hurdes [As Hurdes: Terra Sem Pão] – Luis Buñuel (Espanha)
• 1934: Man of Aran [O Homem E o Mar] – Robert Flaherty (Reino Unido)
• 1934: 1860 – Alessandro Blasetti (Itália)
• 1935: Tôkyô no Yado [An Inn in Tokyo] – Yasujirô Ozu (Japão)
• 1935: Toni – Jean Renoir (França)
• 1942: Aniki-Bóbó – Manoel de Oliveira (Portugal)
• 1943: Ossessione [Obsessão] – Luchino Visconti (Itália)
• 1944: Le Ciel est à Vous [The Woman Who Dared] – Jean Grémillon (França)
* A lista de filmes foi retirada do site https://ajanelaencantada.wordpress.com/neorealismo3/

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