Clara Bow, a The It Girl

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Clara Bow, filha de mãe paranoica e pai alcoólatra, conseguiu chegar ao estrelato e se tornar a maior estrela do cinema em sua época. Mas a loucura e o esquecimento logo iriam bater à sua porta.

A pequena Clara Bow

Sarah, A mãe de Clara já tinha sofrido dois abortos antes de engravidar dela. Sofria de paranóia e epilepsia. Seu pai, Robert era alcoólatra e ausente. Às vezes suas ausências eram tão longas que Sarah, mãe de clara, chegava a pensar que ele tinha morrido. Foi nesse ambiente familiar conturbado que a atriz veio ao mundo, em 27 de setembro de 1905.

Clara cresceu com a impressão de que era ela que cuidava da mãe Sarah, ao invés de ser o contrário. Sarah piorava a cada ano, e quando Clara lhe revelou o sonho de ser atriz, ela, em meio a um ataque, chegou a colocar uma faca no pescoço da filha, e a dizer que preferia vê-la morta. De manhã, Sarah parecia ter esquecido completamente do ocorrido.

A distância do pai só fazia aumentar o cenário de angústia. Ele não conseguia um emprego digno e a família mudava-se constantemente de casa. Aos 14 anos, Clara preferia a companhia dos amigos, geralmente homens. Tinha dificuldades com amizades femininas. Segundo a atriz, as garotas zombavam de seus modos moleques, já que ela preferia jogar beisebol e brigar como um garoto. Ela se destacava também nos jogos escolares.

Clara viu um anúncio de um concurso na revista Motion Picture de janeiro de 1922. Resolveu participar e acabou ganhando. Sua mãe ficou furiosa, mas pouco tempo depois estava internada em uma instituição para doentes mentais. Seu pai, ao contrário, a apoiou, visando o lucro certo que isso lhe traria.

Após vencer o concurso ela abandonou a escola e começou a correr atrás de outros trabalhos. Mas foram tempos difíceis, idas e vindas sem sucesso. “Eu sempre era considerada ou muito jovem, ou um pouco ou muito gorda. É, geralmente eu era muito gorda”, revelou Clara.

Finalmente ela conseguiu um contrato que lhe rendia 50 dólares por semana. Mas logo que as filmagens de “Down to the Sea Ships” começou, ela recebeu uma notícia bombástica: sua mãe falecera.

Sarah, mãe de Clara

Apesar do luto, a carreira começava a decolar.Ela recebeu críticas bastante favoráveis. Logo se tornou uma WAMPAS Baby Star, um prêmio que lhe rendeu mais filmes. Vieram filmes como “Enemies of a woman”, “Grit”, “Maytame”.

Seu salário saltou para 200 dólares ao passo que o trabalho e fama dobravam. Em 1924 já era considerada uma das atrizes mais famosas do cinema, e rentável para os produtores. No período de 1922 a 1925 ela já tinha feito 29 filmes. Mas seu primeiro grande filme foi “The Plastic Age”. Nessa época, a atriz ainda vivia com o pai, que muitos consideravam um explorador barato.

Clara resolveu morar com seu namorado, Arthur Jacobson, um cameraman. BP Schulberg, quando soube disso, resolveu demitir o rapaz. Só arranjou confusão, porque Clara foi atrás do chefe e enquanto rasgava seu contrato, gritava que ele não tinha poder sobre sua vida. No final, chegaram a um acordo, no qual Clara tinha que dizer que Arthur era seu irmão. Mas antes do lançamento de “The Plastic Age”, ela já tinha terminado o namoro com Jacobson, e saia com Gilbert Roland, seu co-star. Depois dele veio Victor Flemming, com quem teve um breve affair. Ele tinha o dobro da idade dela, mas… quem se importava com isso? Quando perguntada sobre Flemming, ela disse: “Foi o primeiro homem de verdade que eu conheci”.

Clara e Victor Fleming

Elinor Glyn, anunciou que Clara possuía algo especial, um “IT”. Essa declaração trouxe curiosidade ao público, mas já fazia parte da publicidade por trás do filme que a marcaria, e do título que lhe cairia: “The It Girl”. Segundo Adolph Zukor, ela era tão vivaz que parecia estar sempre se movendo, e seus grandes olhos possuíam um magnetismo animal, se tornando o centro das atenções onde quer que fosse.  “Wings” (1927) ganhou o Oscar de melhor Filme, o primeiro da história. Ela fez uma participação em um filme technicolor, “Red Hair”, e era a rainha do cinema.

Clara em Red Hair

 
Até que vieram os “talkies”, os tão temidos filmes falados. Clara, que tinha um forte sotaque do Brooklyn ficou insegura. Schulberg queria lançar logo um filme falado com ela. “The Wild Party”, onde ouviu sua voz pela primeira vez, frequentemente é lembrado como um enorme fracasso.

Ela estava em pânico, e não conseguia se adaptar. Logo deixava de ser a preferida de Schulberg e a ser cada vez menos chamada. Seu favoritismo desapareceu e a Paramount a cancelar seus filmes. Seus figurinos e fotografias de publicidade agora tinham que sair de seu bolso, e para piorar tudo sua assistente Daisy DeVoe ainda roubou grandes somas de dinheiro de sua conta bancária. Bow chegou a processar DeVoe, mas o que conseguiu foi somente um infame processo judicial, em que DeVoe revelou detalhes íntimos da vida da ex-chefe. Histórias sobre lesbianismo, incesto, drogas, doenças venéreas e a lenda de que teria feito sexo com toda a equipe de futebol do USC foram declarações feitas por sua ex-empregada.

Clara teve um colapso nervoso e mental, seguidos de um ataque cardíaco. Foi hospitalizada enquanto os estúdios mentiam, dizendo que ela sofria de dores abdominais. Cansada de tudo, arrasada mental e fisicamente, finalmente ela se afastava da vida pública. Estava cansada, magoada e confusa, explicou mais tarde: “ser um símbolo sexual é um fardo pesado para carregar”.

Após sair de Hollywood ela se casou com Rex Bell, que ficara ao seu lado durante todo o seu tormento pessoal. Tiveram dois filhos, mas logo Clara começava a dar os primeiros sinais da doença mental que lhe atormentaria. Com medo de ter ataques como os de sua mãe, ela preferiu se internar em um hospital psiquiátrico onde foi diagnosticada esquizofrênica.

Clara, Rex Bell e filhos

Afastada há tempos da vida pública, estava cansada, magoada e confusa, explicou certa vez: “ser um símbolo sexual é um fardo pesado para carregar”. A atriz morreu aos 60 anos, de um ataque cardíaco, enquanto assistia a um filme de Gary Cooper. Foi enterrada ao lado de Rex Bell.

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