Em entrevista realizada em 1954, Marilyn Monroe revela sonhos e abre seu coração para revista brasileira

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Em 1954 Marilyn Monroe concebia uma entrevista a Louis Serrano, correspondente brasileiro da revista Cinelândia em Hollywood. A matéria a chamava de A Sra. Joe di Maggio, e foi realizada um pouco depois de seu casamento com o astro de futebol americano em 14 de janeiro de 1954. Os dois, porém, iriam se separar um ano depois. Mas nesta entrevista ela parecia realmente feliz e com muitos planos, inclusive de ter filhos. Grifei algumas frases que me chamaram a atenção. As fotos que coloquei não constam na matéria original. Confira a transcrição da entrevista abaixo, mantida a grafia da época:

– No que penso agora, é só em minha proxima viagem a Toquio e no nosso “honeymoon”, meu com Joe. Não quero dizer que não farei mais filmes ou que não voltarei para a Fox. Não sei ainda. Não é apenas a questão de dinheiro, mas um caso de justiça… Porque personifiquei louras menos inteligentes, na tela, não pensem que sou assim na realidade

– Sei que a minha carreira chegou a um ponto em que tenho que tomar uma decisão. Esta virá quando for oportuno. Em meus últimos filmes consegui o que queria como artista: dancei, cantei e tive cenas de comédia e de drama. Considero-me, assim uma moça de sorte. Meninas bonitas em Hollywood existem aos milhares e muitas com pernas e corpos mais atraentes do que o meu. Há sete anos, eu tinha que passar a pão e leite para me poder manter e tomar lições de arte dramática. Hoje oferecem-me presentes e contratos. Agradeço aos que me ajudaram, mas não quero escravizar-me a eles…

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– Vocês, jornalistas, escreveram muitas vêzes que eu ainda não me “encontrei”… Se isto significa que ainda não achei a felicidade… agora já não é verdade. Sou feliz.

– Escreveram também que eu tinha mania de sexo… Tenho a que toda pessoa normal possui. As fotografias, as “poses” famosas, e o que apresentam por aí como “Marilyn Monroe”, fazem parte do que o meu agente chama de “boa publicidade”. Boa ou não, foi ela que me colocou onde estou e, por isso, eu lhe sou grata pela idéia… Mas não sou só pernas e carne… gosto também de ler e pensar. 

– Não me quero gabar, mas sei escrever poesia e faço versos quando ninguém me vê… só para mim e meus amigos mais chegados. O que escrevo não é para ser publicado.

– Agora, quero ter uma família, Joe e eu gostamos imensamente de crianças e vamos ter muitos filhos… quantos? Ainda não sei… 

– Quero também uma casa cercada de árvores, com um quintal bem grande, todo gramado e com muitas flores…

Dizem que me preocupo muito com tudo. É verdade, talvez isso seja reflexo de minha meninice solitária e incerta. Mas gosto imensamente de rir… e sou boa amiga de minhas amigas.

– É verdade que sou anêmica e tenho que ter alimentação especial, com muitos ovos e suco de laranja.

Mas não é absolutamente verdade que não uso roupa interior. Que idéia absurda! Isso talvez, também, seja consequência da tal “publicidade”. Creio que a idéia surgiu quando tive que vestir certo dia um modêlo muito justo e, assim, fui obrigada a tirar a saia de baixo para que o vestido entrasse… Gosto de roupas de esporte e, sempre que posso, tiro os sapatos… é mais cômodo, ainda que menos elegante, talvez…

– Sei que sou má cozinheira, mas estou melhorando… Joe é ótimo “cook” e vai ajudar-me.

– Sou desordeira, mas com uma família, tenho agora que me corrigir.

– Escreveram também que adoro pintar-me… não é verdade, detesto pintura no rosto e só mesmo quando necessário me deixo maquilar…

– Quero tornar-me uma artista perfeita e, para isso, estudo tenazmente.

A minha maior ambição é de me dedicar ao palco, porém é difícil e não sei se o meu talento chegará para tanto.

Não gosto de arte moderna. A afirmação em contrário não é miha – mas de alguns jornalistas. Escreveram que eu gostava do surrealismo… Detesto essa coisa e acho que isso não é arte. Gosto de Botticelli e de Miguel Angelo. Êsses são verdadeiros artistas e me inspiram.

– O meu maior desapontamento, desde que comecei a ser alguém, foi quando escreveram que não fui eu que cantei no filme “Gentlemen Prefer Blondes”… É minha voz, sim, boa ou má. Aliás, tenho até um contrato com uma companhia de discos…

– Aí está o que acho de mim mesma… gosto de ser considerada “alvo para assobios” e não é nada de mais para uma moça pensar assim, não é? … o resto, porém, dos romances, complicações e outros comentários a meu respeito, não é verdade… e espero que os seus leitores não fiquem desapontados…”

Marilyn Monroe em River of No Return (1954)

E aqui fica, leitor amigo, palavra por palavra, a minha entrevista com Marilyn Monroe nas vésperas de sua partida para Toquio… quando todos pensavam que ela estava muito longe de Los Angeles é incógnita, alhures… Já era então a senhora Di Maggio e estava apenas a espera de Joe, que fora a Nova York ultimar alguns negócios, para voarem para o Japão longe de todos e de tudo, para passar em paz a sua lua de mel.

Marilyn me disse algo realmente digno de nota. Ainda que seja um tipo feminino bem interessante, não é extraordinária, e pelas agências de modelos de Los Angeles é possível encontrar outras moças, também louras e de olhos azuis, com as suas medidas provocantes e pernas bem feitas… Ela porem teve sorte e foi das escolhidas para uma propaganda de alguns milhões de dólares… Ainda que a “sorte grande” a tivesse por algum tempo como que arrebatado do chão e das realidades da vida, Marilyn parece agora ter voltado a este mundo com uma visão clara das suas possibilidades e do que o futuro pode reservarlhe de bom ou de menos atraente. Quer, assim, tomar a resolução mais acertada, e é o que está certamente pensando em seus momentos de lazer.

Para ajudá-la, tem agora o seu Joe, com a sua firmeza de bom atleta e uma larga visão de “business man”… Daqui, a Fox, onde ela continua suspensa, lhe manda telegramas e cartas… veremos o que Marilyn vai resolver… em caso de não aceitarem o seu utlimatum antes da partida: em vez de 750 dólares por semana… CINCO MIL!

Tinha razão a loura marilyn… só nos filmes ela parece ser menos… inteligente.

Fonte: http://memoria.bn.br
Revista Cinelândia, 1954m edição 33

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