Farley Granger se tornou conhecido após protagonizar dois filmes de Alfred Hitchcock. Com um grande talento , dedicou-se ao teatro e à televisão, lançando mais tarde um livro em que revelava dentre outras coisas, seu casamento com o escritor Robert Calhoun.
Farley Earle Granger Jr. nasceu em 1 de julho de 1925 em San Jose, Califórnia. A vida do pequeno Farley poderia ser outra se seu pai, um rico empresário, não tivesse perdido tudo após a quebra da bolsa de valores de 1929. A família partiu para Hollywood, onde trabalharam em pequenos ofícios para se manter. Aconselhado pelo veterano ator Harry Langdon, seu pai o matriculou primeiro em um estúdio de dança, e depois o levou para algumas audições de teatros. Em uma delas, foi escolhido para trabalhar em algumas peças. Posteriormente, Farley estudou com Stella Adler e Sanford Meisner.
Pouco tempo depois seria contratado pela Goldwyn com um salário padrão de 100 dólares por semana. Sua estréia veio com uma participação no drama de guerra Estrela do Norte (The North Star, 1943), de Lewis Milestone. O ator de 17 anos chamava a atenção em um elenco que trazia também Dana Andrews e Anne Baxter:
Eram tempos de guerra, e o ator teve que servir à Marinha antes de retornar às telas.
Trabalhando ao lado de Alfred Hitchcock
Hollywood era conhecida também pelas grandes festas dadas tanto pelos estúdios quanto pelos artistas e produtores. E foi em uma dessas festas que Granger conheceu o diretor Nicholas Ray. O diretor o convidou para participar de seu novo projeto, Amarga Esperança (They Live by Night, 1948). Aqui o ator atuou pela primeira vez ao lado da atriz Cathy O’Donnell. No filme ele interpreta Bowie, um homem preso injustamente por assassinato e que ao sair apaixona-se pela bela Keechie. Os dois planejam viver honestamente, mas não será fácil. Confira o trailer:
Amarga Esperança fez um relativo sucesso, sendo apresentado em vários estados. Uma das pessoas que viu e gostou da performance do jovem ator foi Alfred Hitchcock. O diretor inglês chamou Granger para participar de Festim Diabólico (Rope, 1948). Ele teria como companheiros de tela o já consagrado James Stewart e o competente John Dall.
O texto sobre dois assassinos que convidam seu professor para uma macabra festa tinha um subtexto homossexual, mas devido à forte censura foi suavizado. Os dois jovens atores perceberam as nuances, mas não se sabe até hoje se Stewart sabia que seu personagem também era gay. Festim Diabólico se tornou famoso por ser o primeiro filme em technicolor de Hitchcock, e também por ser realizado com planos sequências de 10 minutos cada. A crítica em geral recebeu positivamente, e ficou impressionada tanto com Granger quanto com Dall.
Trabalhar em um filme de Hitchcock sempre é uma oportunidade de ter portas abertas, e de fato o ator começou a ser chamado para outras produções. Dentre elas, Pecado Sem Mácula (Side Street, 1949), um subestimado noir feito por Anthony Mann e que vale a pena uma revisão. O jeito de bom moço de Granger o ajudou a colecionar vários personagens que mesmo que cometam absurdos são no fundo boas pessoas. Em Pecado sem Máculaele é um carteiro pobre que decide roubar 200 dólares para iniciar uma vida nova ao lado de sua esposa. Ao perceber que o valor é maior, ele decide devolver, mas se envolve em uma grande enrascada.
Mais uma vez ele foi lembrado pelo mestre do suspense, que o chamou para participar de sua nova história, o perturbador Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951). Baseado na obra de Patricia Highsmith, o filme também teria um subtexto homossexual, mas que teve que ser subtraído ou minimizado pelos roteiristas Whitfield Cook e Raymond Chandler. Aqui, Granger é Guy Haines, um homem que odeia sua esposa traidora, mas não consegue se divorciar dela.
Em uma viagem de trem, conhece o macabro Bruno (Robert Walker), que lhe propõe um acordo: matar sua esposa enquanto o rapaz mata seu pai. Guy não leva a história muito a sério, mas começa a se preocupar quando Bruno mata sua esposa.
Durante as filmagens ele se tornou um confidente do ator Robert Walker, que entrava em uma depressão após ter sido abandonado pela atriz Jennifer Jones. O ator morreria antes do lançamento, após ingerir uma forte dose de barbitúricos. Granger ficou arrasado.
Após uma sequência de bons filmes, ele começou a ser escalado para projetos que em geral não o agradavam, como A História de Três Amores (The Story of Three Loves, 1953), de Vincente Minnelli e Senhorita Inocência (Small Town Girl, 1953), de László Kardos. Cansado de tudo, embarcou para a Itália, onde atuou em Sedução da Carne (Senso, 1954), de Luchino Visconti. De volta à América, decidiu dedicar-se também ao teatro.
Em 1955 ele estava de volta aos teatros com a peça The Carefree Tree, que estreou no Phoenix Theatre em outubro e foi um retumbante fracasso. O ator ainda fez uma séries de peças que não agradavam mas não se deu por vencido. Mesmo após alguns insucessos como First Impressions (1959), continuou a trabalhar nos palcos até que finalmente conseguiu reconhecimento ao atuar em The Seagull e Deathtrap, seu maior sucesso.
Nas últimas décadas de sua vida, Granger fez várias participações em documentários em que falava sobre sua relação com Hitchcock e também sobre sua sexualidade. A década de 2000 marcaria sua despedida nas telas ao atuar The Next Big Thing (2001) e fazer uma participação no documentário Broadway: The Golden Age, by the Legends Who Were There (2003).
Vida Pessoal
A bissexualidade de Granger não era um segrego para ninguém. Ele lidava muito bem com o fato e teve vários amores. Em sua autobiografia publicada em 2007, ele revelava fatos de sua vida íntima:
“Nunca senti a necessidade de pertencer a nenhum grupo exclusivo, autodefinidor ou especial. Nunca fiquei envergonhado ou senti a necessidade de explicar ou pedir desculpas pelos meus relacionamentos com ninguém. Eu amei os homens e adorei as mulheres.”
Ele também foi um dos poucos que conseguiram escapar dos casamentos forçados pelos estúdios. Segundo as colunas de fofocas, ele teria se envolvido com a atriz June Haver. Na edição de 7 de julho de 1945, a revista brasileira O Cruzeiro, comentava sobre o suposto romance:
Granger também colecionou inúmeros amigos durante toda sua vida. Dentre eles o ator Roddy McDowall. Outra grande amiga era Ethel Chaplin, esposa do compositor Saul Chaplin.
Durante as filmagens de Festim Diabólico, ele conheceu e se apaixonou pelo escritor e roteirista Arthur Laurents, roteirista do filme. Entre idas e vindas, os dois permaneceriam juntos por quatro anos, chegando a dividir o mesmo teto. Mas naquele tempo não era fácil, e ambos tinham que disfarçar o romance levando amigas juntas em seus passeios. Dentre essas garotas estava a atriz Shelley Winters. Granger assumiu que os dois estiveram envolvidos durante um bom tempo, declarando posteriormente que ela era “o amor de minha vida e a perdição da minha existência”. Tanto Laurents quanto Winters permaneceram amigos do ator até o final da vida.
Outros amores de Granger incluem os compositores Aaron Copland e Leonard Bernstein, o ator Jean Marais, a musa Ava Gardner (com quem teve um breve romance em 1951). Mas embora tenha falado tão amavelmente sobre Winters, seu grande amor foi mesmo o escritor Robert Calhoun. Os dois se conheceram enquanto o ator ensaiava uma peça em 1963 e iniciaram um romance no dia em que o presidente Kennedy foi assassinado.
Os dois permaneceriam juntos por 45 anos, até a morte de Calhoun em 2008. Granger morreria em 27 de março de 2011. Tinha 85 anos de vida bem vividos, e morreria de causas naturais. Viveu sem ceder às pressões. Esse foi seu grande legado.
Fontes: IMDB, Nytimes, Hollywoodlady, The ins and outs of Farley Granger, Farley Granger, American actor, Revista Cruzeiro
Livro: Include Me Out: My Life from Goldwyn to Broadway