María Félix, o fascínio da mulher que desafiou sua família e se tornou a maior estrela do cinema mexicano

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Acusações de incesto, separações e mortes pareciam cruzar seu destino. Mas Mária Félix superaria tudo e se tornaria uma das maiores atrizes que o México e o mundo já conheceram. 

María de los Angeles Félix Güereña nasceu em Álamos, México, em 4 de maio de 1914. Descendente de espanhóis e índios yaquis, teve quinze irmãos, dos quais três morreram ainda na infância. Em sua infância era muito apegada ao seu irmão Pablo. Por causa disso suscitou dúvidas em seus parentes sobre a realidade de seu relacionamento: teriam eles cometido incesto?

Não há um consenso sobre o que de fato ocorreu, mas há uma versão sobre um passeio que os dois fizeram quando María tinha 12 anos e ele 17. Ela teria menstruado pela primeira vez, e ao retornar para casa seus pais pensaram que ela e o irmão tinham cometido incesto. Teria sido daí que decidiram separá-los de vez. Pablo foi mandado para um colégio militar e Maria passou a ser tratada com rispidez pelos pais que a julgavam uma péssima influência para todos, ou uma “endiabrada”. Pablo se suicidou com um tiro na cabeça aos 19 anos. Mais tarde Maria reacenderia a dúvida ao declarar:

“Estaba tan guapo que me temblaron las piernas. Pensé en buscarme un muchacho como él, que tuviera su piel y sus ojos, pero que no fuera mi hermano. Era una tontería, porque el perfume del incesto no lo tiene otro amor”. Fonte

A jovem preferia a companhia dos garotos desde cedo, deixando de lado brinquedos e brincadeiras que eram consideradas de “menina”. Já adolescente ganhou o concurso de Rainha da Beleza na Universidade de Guadalajara.

A vontade de sair do ambiente familiar fez com que ela se casasse aos 19 anos com Enrique Álvarez Alatorre, um vendedor de maquiagem. Do relacionamento nasceu seu único filho, Enrique. Ela se separou do marido ao descobrir que ele a traía e tinha gonorreia. O divórcio, porém, só sairia em 1938. Mas não seria a última vez que ela ouviria o nome dele.

Maria Félix com seu único filho, Enrique

Após a separação, a bela retornou à casa de seus pais, mas seria mal recebida, afinal, era mulher “separada”. A situação se tornou insuportável e ela decidiu partir para a Cidade do México onde passou a trabalhar como recepcionista para sustentar o filho. Seus sofrimentos não pararam por aí. Quando Enrique estava com três anos, seu ex-marido o levou para Guadalajara e se recusou a devolvê-lo para a mãe. María contou com a ajuda de seu segundo marido, o compositor Agustín Lara, para recuperar seu filho.

María Félix, Agustín Lara e Joaquín Pardavé

O que adianta ser casada com um compositor e ele não fazer uma só música para você, não é mesmo? María serviu de inspiração para que Agustín Lara escrevesse a música “Maria Bonita” durante a lua de mel deles em 1945. Escute a música:

Se a vida antes da fama é lendária, também a maneira como a atriz foi descoberta também o é. O cineasta Fernando Palacios a teria visto caminhando em uma rua. Fascinado com sua presença, a chamou e insistiu para que se tornasse uma atriz. Para isso, ensinou-lhe como se portar em público e a levou para várias recepções para que ela fosse vista. Claro que a bela morena chamava a atenção de todos.

Em 1942 finalmente ela estreou no cinema em El Peñón de las Ánimas (1942), dirigido por Miguel Zacarías. Seu parceiro de telas era o mexicano Jorge Negrete. Apesar de um começo tumultuado (ele queria que sua namorada interpretasse o papel que María recebeu), os dois se tornariam muito próximos.

Maria Felix em La Devoradora

Tinha início a uma das mais espetaculares carreiras de uma atriz mexicana. Uma série de papéis em que ela interpretava mulheres fortes cimentavam a imagem de uma artista temperamental. Ela se tornou, enfim, La Doña após estrelar Doña Bárbara (1943). Nascia a lenda:

Em Doña Bárbara (1943)

Alguns de seus filmes de maior sucesso incluem Enamorada (1946), Río Escondido (1948) e Dona Diabla (1950). Foram ao todo 47 trabalhos em vários países de língua espanhola como México, Espanha e Venezuela. Porém, embora tenha aprendido francês para atuar em French Cancan, de Jean Renoir, ela jamais demonstraria interesse em aprender inglês e partir para uma carreira nos Estados Unidos. Convites não faltaram ao longo de toda a sua vida.

Dez anos depois de sua estreia nas telas, ela voltaria a rever Jorge Negrete. Dessa vez iniciaram um rápido romance e pouco tempo depois estavam casados. O relacionamento, porém, terminaria de maneira trágica, pois ele contraíra hepatite pouco tempo antes de se casarem e faleceria em 5 de dezembro do mesmo ano de hepatite. Negrete tinha apenas 42 anos.

María com Jorge Negrete

Após passar uma temporada fazendo filmes na Europa, a atriz estava de volta ao seu México. Esse período foi marcado por películas que se inspiravam em histórias da revolução mexicana. Porém, no final da década, La Doña diminuía seu ritmo de trabalho.

María despertou amor em vários homens, como podemos imaginar. Alguns foram retribuídos, outros, como o pintor  Diego Rivera, não. O pintor, casado com Frida Kahlo, lhe enviou cartas durante mais de dez anos até finalmente desistir da investida. O quarto marido da musa foi o banqueiro Alexander Berger, com quem ela permaneceria casada entre 1956 e 1974, quando ele faleceu de câncer de pulmão. A morte da mãe, seguida do marido a levaria a uma grande depressão. Quando faleceu, María estava vivendo com  o pintor Antoine Tzapoff.

Após atuar em La Constitución (1970), ela ainda faria uma pequena participação em La generala (1971), mas se aposentaria pouco tempo depois. Passou então seus dias cuidando de seus cavalos, sua grande paixão. E ela era capaz de passar horas ao lado de Maria Bonita, Mayab, Zapata e tantos outros cavalos batizados com os nomes inspirados nos personagens de seus filmes.

A atriz faleceu no mesmo dia em que completou 88 anos, em 8 de abril de 2002 enquanto dormia. Já consagrada, recebera vários prêmios por suas atuações e também se tornara um ícone de estilo, amada em toda a América. Seu estilo ditou moda e influenciou uma geração de mulheres fortes, apaixonadas e desafiadoras.

Fontes: notimericamariafeliximdbRazon, toleranciareal, Mexicomx

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