Para Rosselini, o neorrealismo é uma forma de, em um momento de pós-guerra, de ruína da Itália, de total miséria (squalore), dizer “ainda podemos fazer algo”, “em meio ao que parece nada, em meio a uma cidade quebrada pela guerra, os homens ainda produzem e sobrevivem”. O movimento era então, uma tentativa de democratização do artesanato do filme.
O movimento surgiu na Itália com o fim da Segunda Guerra Mundial. Em um país que estava ainda caótico e se recuperando após o longo governo fascista (1922 – 1945). Com o final da guerra, houve uma mudança econômica e social na população, com grande parcela do povo passando necessidades e desempregada. Anteriormente os filmes focavam mais em questões moralistas e com histórias romanceadas que mostravam uma falsa imagem da sociedade.
Em contraste com tudo isso, o cineasta neorrealista trabalhava com o que tinha em mãos. Sem necessidade de agradar ao governo do país, mostrava a sociedade tal como ela se apresentava, fazendo um retrato da verdade, com filmes que seriam quase documentários.
Para que isso ficasse mais claro, constantemente eram utilizados atores não profissionais, que muitas vezes utilizavam de sua própria fala. Os personagens eram tão humanos com suas falhas e qualidades que os tornavam quase reais.
Com a escassez de financiamentos, os cenários eram feitos in loco, com poucos ou nenhum local fabricado para a execução das cenas. Constantemente também eram aproveitados restos de filmes e pedaços de rolo. Não havia efeitos especiais, o plano era colocar uma câmera na mão e fazer o filme com o som direto.
A estrutura narrativa evita as convenções clássicas de continuidade, muitas vezes não tendo uma linearidade ou explicação prévia das atitudes dos personagens que tem uma atuação mais perene e nunca exagerada.
O termo neorrealismo foi empregado pela primeira vez em 1942, quando Umberto Barbaro o citou na Revista Cinema, referindo-se ao novo movimento como autêntico, revolucionário, engajado e antifascista.
O movimento influenciou cineastas de todo o mundo, rompendo fronteiras. Satyajit Ray, na Índia, seguiu o mesmo conceito, adaptando-o à realidade de seu país. Ele retratou em seus filmes as tradições, os conflitos entre o novo e o velho e os mitos da antiga Índia, um país pobre que até hoje ainda vive em dificuldades.
Nelson Pereira no Brasil também teve suas obras influenciadas pelo neorrealismo. Vidas Secas, de 1963 é um exemplo claro da influência, ao mostrar a vida de uma família de retirantes em meio a seca e fome do nordeste.
O neorrealismo começou a perder forças na década de 50, com a melhora nas condições de vida na Itália. A Itália ainda veria ecos do movimento nas próximas décadas, sobretudo nos primeiros filmes realizados por Federico Fellini.