12 Homens e uma Sentença (1957/1997)

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Doze homens recebem a incumbência de julgar um crime envolvendo o assassinato de um senhor. Inicialmente o crime é tido como de fácil resolução, já que as provas e depoimentos parecem apontar para a culpa de seu filho de 18 anos. Porém, o questionamento de um dos jurados levanta questões sobre a veracidade dos fatos que parecem certos. Estariam as testemunhas tão certas do que viram? Seria absurdo que o acusado de fato falasse a verdade?

A primeira versão veio ao ar inicialmente para a televisão em 1954. O sucesso levou produtores a preparar uma versão para as telas sob a direção de Sidney Lumet (Um Dia de Cão, Sérpico). Esta, inequivocadamente é um dos melhores exemplos de filmes de tribunais já levadas ao cinema. Isto levando-se em conta o cunho teatral, a ausência de trilha sonora e o uso quase que exclusivamente de um único cenário. Sua força está totalmente nos ricos diálogos engendrados pelos personagens.

A proposta de não dar nomes aos membros do juri é bastante simbólica. E assim temos: Martin Balsam (como um professor que tenta organizar a sessão e se torna o chefe do juri), John Fiedler (um banqueiro que vai com os outros), Lee J. Cobb (como um homem de negócios, pai raivoso e principal antagonista), E. G. Marshall (que trabalha na bolsa de valores e traz em seu perfil um homem calculista e racional), Jack Klugman (um torcedor apaixonado que cresceu no subúrbio), Edward Binns (um simples pintor de paredes que tem princípios sólidos), Jack Warden (um torcedor de futebol que está mais interessado em terminar tudo para ver a partida de seu time), Henry Fonda (o arquiteto que questiona movido pela dúvida), Joseph Sweeney ( o ancião atento, com ótimas observações e tiradas), Ed Begley (intolerante, revela por gestos que seu voto é baseado em esteriótipos e preconceitos), George Voskovec (um relojoeiro que se orgulha de ter imigrado para os Estados Unidos) e Robert Webber (como um publicitário que rabisca durante toda a discussão para ocultar sua indecisão). Surge a ânsia em terminar.
Durante a longa discussão, fica cada vez mais claro que o posicionamento de cada um é motivado por forças que vão além do caso: doença, cansaço, fome, desmotivação, desejo de terminar tudo brevemente e carência. Os preconceitos ocultos também brotam quando a tensão aumenta minuto a minuto. Desta maneira, o julgado acaba sendo apenas um coadjuvante para que descubramos um pouco mais sobre cada um de seus julgadores. Alguns personagens chamam mais a atenção por seus posicionamentos.

O jurado nº 3 demonstra, através de sua fragilidade, a mágoa por ter sido abandonado pelo filho. Condenar o rapaz de 18 anos para ele, soa como uma vingança pelas atitudes cruéis de seu próprio rebento. Ele ignora, no entanto, que suas atitudes, quando forçou seu filho a se “tornar um homem” tenham sido o motivo claro para um futuro abandono. Perceber que seus companheiros, um por um, começam a serem tomados pela dúvida, causa no mesmo um descontrole emocional, tornando-o o mais forte dos personagens.
A claustrofobia do local aliado ao calor excessivo acabam se unindo para empurrar todos os presentes ao desespero e sair dali. Tal sensação é ampliada também pela escolha de Lumet em apresentar os personagens em muitos close-ups. O aclamado filme do diretor consta hoje em várias listas de melhores filmes, além de agregar conhecimentos e reflexões sobre o que de fato seria um julgamento. Com uma versão tão perfeita em seus propósitos, fica o questionamento sobre a necessidade de uma refilmagem trazendo basicamente os mesmos elementos.

Tarefa extremamente difícil para o diretor William Fridkin, que ficou responsável pela versão de 1997, feita novamente para a televisão. É preciso que se diga que o remake é totalmente fiel ao texto escrito inicialmente por Reginald Rose. Quanto a isso não o que se questionar ou fazer comparações com a outra versão cinematográfica. Mas há elementos mais agregadores neste aqui. O elenco, formado por atores consagrados e outros jovens, é mais diversificado ao passo que inclui outras nacionalidades, trazendo também atores negros. Presos no rico texto de Rose, enriquece-se, assim, o tom das reflexões. A ausência de uma personagem feminina, observada no filme de Lumet (me parece que só uma aparece rapidamente e sem falas) é sanada da maneira que se poderia fazer quando Mary McDonnell surge como a juíza. Neste ponto, de fato, não há muitas saídas, já que o texto original é direcionado à discussão dentro da sala. 
 
Quero chamar a atenção também para um fato. Detesto ter que fazer comparações sobre atuações, ainda mais se tratando de dois monstros do cinema como Henry Fonda e Jack Lemmon, mas é necessária uma observação. As nuances apresentadas por eles diferenciam um pouco o personagem nº 8. Henry Fonda entrega uma interpretação sóbria e firme. E talvez por isso se torne o balaústre da defesa. Ele não parece questionar, parece defender de fato o julgado. Trazido às telas por Lemmon, temos um homem que desde a primeira cena se vê como alguém com plenas dúvidas. Seus questionamentos mostram que ele está de fato querendo descobrir onde reside a verdade.

 
George C. Scott (também conhecido por sua primorosa interpretação em Anatomia de um Crime) se torna outro destaque, ao interpretar o pai amargurado e antagonista da história. Senti um pouco a falta do tom mais alarmista e raivoso empregado por  Lee J. Cobb na primeira versão, mas há de se lembrar que Scott já era um senhor de 70 anos em comparação aos 47 anos que o Cobb tinha à época. Armin Mueller-Stahl, Dorian Harewood, James Gandolfini, Tony Danza, Hume Cronyn, Mykelti Williamson, Edward James Olmos e William Petersen completam o elenco.
Quem já assistiu à versão de Lumet, aconselho ver também o filme de 1997, dirigido por William Fridkin. O filme está sendo finalmente lançado no Brasil em dvd pela Obras Primas do Cinema. Para adquiri-lo basta se dirigir a alguma das lojas ou comprar diretamente no site da Colecione Classicos, clicando na imagem abaixo:

A versão de 1957 também é vendida no site:

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