Crime e Castigo (1935): Peter Lorre Brilha na Adaptação de Dostoiévski
Crime e Castigo (1935) é uma adaptação cinematográfica do clássico de Dostoiévski, estrelada por Peter Lorre, explorando culpa e redenção na Rússia czarista.

Após os fracassos de bilheteria de The Scarlet Empress (1934) e de O Diabo é uma Mulher (1935), Josef von Sternberg foi banido da Paramount por não se adequar ao sistema de estúdios. Destruído e com o contrato cancelado, tinha ainda que cumprir um último filme: Crime e Castigo, desta vez para a Colúmbia.
Von Sternberg tinha uma grande aventura pela frente: comprimir as mais de 600 páginas do romance original para tensos 88 minutos de tela. O filme seria estrelado por Peter Lorre, astro húngaro cuja primeira aparição em um filme de língua inglesa tinha sido o Hitchcokiano The Man Who Knew Too Much, quando ele ainda repetia suas falas foneticamente. Seja quais foram suas limitações em 1934, em Crime e Castigo ele já as tinha superado, pois o ator traz um desempenho estelar no papel principal. Marian Marsh como Sonya também traz forte contribuição dramática. O desempenho brilhante de Edward Arnold como o inspetor e o jogo sutil de gato e rato entre ele e Lorre só podem ser compreendidos diante de um contexto russo.
Mesmo assim há várias versões cinematográficas e a melhor talvez seja a russa, lançada em 1970 e dirigida por Lev Kulidzhanov. Sternberg , que já havia ajudado a criar a lenda Marlene Dietrich em O Anjo Azul, escolheu Peter Lorre para o emblemático papel de (Roderick vez de Rodion) Raskolnikov por ele ser um astro em ascensão. E mesmo que o filme não esteja à altura do original de Dostoiévski, é notável o talento de Sternberg no jogo de luzes e fotografia.
O caráter de Roderick parece mal motivado e nunca completamente esclarecido e seu comportamento se torna uma série de estados de espírito desconexos, sem um padrão psicológico contínuo. Ao invés de um “mestre do crime”, Roderick mais parece um jovem confuso e torturado, sempre à beira de revelar seu grande segredo.
Diante de um roteiro confuso, Lorre, ainda assim traz um desempenho fascinante, revelando mais uma vez sua capacidade de misturar repulsa e simpatia numa mesma figura, algo que ele sempre carregava nos personagens que lhe davam. Ele é o assassino de voz suave em tantos filmes seguintes. É uma pena que o ator não tenha sido tão bem aproveitado como deveria.