De Repente, Num Domingo (1983)

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Vivement Dimanche! teve o roteiro baseado no livro homônimo de Charles Williams. Dirigido por François Truffaut, traz referências a diversas obras, dentre elas Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock. O cineasta de Os Incompreendids se despediu do cinema com esse trabalho que ele fez em homenagem aos grandes noirs e suspenses do passado e mostra como ele aprendeu direitinho com o mestre quando ele fez uma série de entrevistas com Alfred Hitchcock.

Julien Vercel (Jean-Louis Trintignant) é um agente imobiliário. Tudo caminha tranquilamente em sua vida, até que o amante de sua esposa é morto e ele passa a ser o principal suspeito. Para piorar sua situação a sua esposa também é assassinada e ele só conta com sua secretária Barbara Becker (Fanny Ardant) para lhe ajudar a esclarecer o caso. Barbara parte para investigações enquanto ele se esconde da polícia.

 
Mesmo com as interferências dos produtores, Truffaut insistiu que a fotografia fosse em preto e branco, e os figurinos acompanharam a tendência clássica. Foi uma atitude corajosa em um período em que as películas eram feitas visando já seus futuros lançamentos na televisão, e nesse ponto, os filmes coloridos reinavam. A fotografia em preto e branco também é uma forma de dar ênfase ao fator noturno, já que como um bom noir a maior parte de suas cenas se passam a noite. A personagem feminina não é loura, mas parece lembrar ao protagonista todo o tempo o quão ele prefere mulheres blondes. Em determinado momento do filme parecemos vislumbrar uma cena hitchcockiana de Janela Indiscreta, quando os personagens observam os pés das pessoas que passam pela pequena fresta da janela. Também o personagem, assim como o de Intriga Internacional é acusado injustamente e tem que lutar para provar sua inocência. Rastros do mestre do suspense.

Para o papel masculino ele chamou Jean-Louis Trintignant, já bastante reconhecido pelo público, mas que ainda não tinha trabalhado ao lado dele para compor o principal papel masculino. Para a protagonista feminina Fanny Ardant, namorada do próprio Truffaut, e que já tinha trabalhando anteriormente com ele em A Mulher do Lado (1981). Sua personagem Bárbara encarna bem a mulher corajosa que vai em busca do que deseja. Aliás, as mulheres são a grande paixão do cineasta, que sempre coloca na boca de seus personagens o que acha delas. É comum sempre citarem o quanto são mágicas. E nesse contexto, o francês buscava exaltar o amor não por uma, mas por todas as mulheres que o cercavam (Vide o personagem central de O homem que amava as mulheres e o Antoine Doinel de sua série de filmes).

Vindo de dois filmes que não foram sucesso, Truffaut temia essa estréia mas acabou sendo bem recebido pela crítica e público. Recebeu uma indicação ao CÉSAR de melhor diretor e também ao BAFTA de melhor filme estrangeiro.
É uma pena que pouco tempo depois do lançamento o cineasta tenha sido diagnosticado com câncer e sucumbido à doença com apenas 52 anos. Ver últimas obras sempre nos deixam com uma sensação de orfandade, de que algo ainda poderia ter sido feito. Ele pensava em dedicar-se à literatura mas não houve tempo. Foi cedo mas deixou uma grande obra como despedida.

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