Na década de 80 o ano 2000 parecia muito distante. Quando queríamos demonstrar o quão impossível era algo, dizíamos: “Só no ano 2000!!” É curioso ver que muitas das coisas que imaginávamos ver nesta nossa época eram miragens, sonhos até o momento improváveis comercialmente: carros voadores, roupas inteligentes ao ponto de falar e tecnologias acessíveis a todos. Foi em 1985, que vimos surgir o primeiro de três episódios da série dirigida por Robert Zemeckis, De volta para o futuro (Back to the future), e que, como o próprio nome indica, brincaria um pouco com esse sonho comum de viajar no tempo.
O tema não era novo, já tinha sido abordado em A máquina do tempo (The Time machine), de 1960, baseado no livro homônimo de H. G. Wells, que tratava de um homem que constrói uma máquina do tempo e com ela viaja para o futuro, verificando as perdas da humanidade. O filme conseguiu um Oscar por efeitos especiais (vistos hoje como toscos). Uma refilmagem foi feita em 2002, porém sem grande sucesso. Outro com tema semelhante foi Em algum lugar do passado (Somewhere in Time), romance que trazia Richard Collier (Christopher Reeve) e Elise McKenna (Jane Seymor) como dois apaixonados separados pelo tempo. Richard retornava ao passado levado não por uma máquina, mas por seu pensamento, direto aos braços de sua amada.
Em De volta para o futuro Zemeckis resolvera unir aventura, humor e romance para contar a tragetória de Marty McFly, adolescente que vive na cidade de Hill Valey e do seu amigo, o físico Dr. Emmett Brown. Após adaptar um carro DeLorean para ser capaz de viajar no tempo, Brown a testa com o seu cão Einstein, e prepara-se para ele próprio viajar, quando é surpreendido por terroristas que lhe cobram pelo combustível (plutônio) empregado no carro. O Dr. Emmett é atingido e Marty, para escapar dos criminosos, obrigado a entrar no carro e viajar para 1955. As aventuras iniciam-se com Marty encontrando seus pais, atrapalhando o encontro dos dois e alterando, sem querer, a sua própria história. Para desfazer os enganos, o garoto contará com a ajuda do Dr. Emmett do passado.
Para o papel de Marty, o ator escolhido inicialmente foi Michael J. Fox, porém o mesmo estava ocupado demais com a série de TV Family Ties. Sugeriu-se o nome de Eric Stoltz, que chegou a gravar algumas cenas, mas não convenceu. A Fox não desistira de Michael. Assim, entrou num acordo com a NBC, que liberou o ator para fazer o filme. O ator quase chega a um colapso nervoso, pois tinha que cumprir duas cargas horárias, uma da série e outra do filme. Cogitou-se fazer a máquina do tempo de uma geladeira, mas após chegar a conclusão de que isso traria mais problemas do que lucros (crianças entrando em geladeiras não era uma boa idéia). O filme ganhou os Oscar de Melhores Efeitos sonoros, sendo sucesso absoluto de público.
Cinco anos mais tarde foram realizadas as filmagens da continuação, tendo algumas perdas: Crispin Glover (George McFly) e Claudia Wells (Jennifer) foram substituídos. Glover exigira um cachê astronômico e Claudia passava por dificuldades emocionais, ficando impossibilitada de filmar. Foram então substituídos por Jeffrey Weissman e Elisabeh Shue. A idéia inicial seria fazer um único filme, mas a seqüência ficou tão grande (quase quatro horas), que foi decidido que seria melhor dividi-lo em duas partes: criaram-se assim as seqüências “De volta para o futuro II” e “De volta para o futuro III”. A série desenvolve seqüências parecidas, e que acabam dando a impressão de dejavu, como a perseguição de skate, diálogos de Marty com a mãe ao acordar (“mamãe, é você?”) e o caminhão de esterco caindo eternamente no carro de Biff, dentre outros. Os atores intercalam-se em diversos personagens: Michael J. Fox (o jovem e o velho Marty, assim como seus filhos Marty Jr. e Marlene, e seu ancestral Seamus), Lea Thompson (Lorraine jovem e velha e Maggie McFly) e o vilão Thomas F. Wilson (Biff, Buford, Griff e Biff Tannen).
Em um tempo em que os cinemas ainda reinavam absolutos e as videolocadoras ainda engatinhavam, assisti a estréia da seqüência 2 no antigo Cinema Veneza, em Recife. Lotado, sobretudo por jovens e adolescentes, que em suas cabeças de sonhos, queriam ser Marty ou viver a possibilidade de uma viagem no tempo, pelo menos virtual. Uma viagem que só o cinema nos possibilita. Por enquanto…
Hoje, 23 anos após a estréia do primeiro filme, ainda é um dos poucos que ainda me traz a mesma magia sentida em sua estréia. Ainda é um filme que me faz parar em frente à TV, mesmo com a seqüência alterada ou partes finais, fazendo-me pensar em possibilidades ou ao menos imagina-las um dia possíveis. Um filme que, definitivamente, nasceu com a áurea de clássico. Um filme não de época, mas de épocas.