Férias de Natal (1944)

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Férias de Natal (Christmas Holiday) foi dirigido por Robert Siodmak e traz os astros Gene Kelly e Deanna Durbin nos papéis principais.
Gene Kelly e Deanna Durbin remete-nos aos grandes musicais. Kelly até então não tinha realizado os seus grande musicais, mas já mostrara a arte em seus pés, em filmes como “For me and my gal”, com Judy Garland, e “Cover Girl”, com Rita Hayworth. Mais tarde tornaria-se um dos maiores coreógrafos e dançarinos de Hollywood, com clássicos como “An American in Paris” e “Singin’ in the Rain”, considerado por muitos o maior dos clássicos musicais (na verdade uma grande homenagem a todos os grandes musicais).

Deanna Durbin começara na MGM, como atriz mirim, mas foi preterida por Judy Garland (duas atriz juvenis com o mesmo perfil de cantoras não era um bom negócio para a Companhia), seguindo carreira na Universal Studios, em comédias e musicais onde ela podia exibir sua voz de soprano. Ainda jovem, abandonou a carreira de atriz.

Temos aqui um drama, carregado em seus cenários escuros e um conflito psicológico percebidos desde o momento em que Deanna surge a cantar em suas primeiras cenas.


Antes de mais nada, o título quase nada tem a ver com o filme. É apenas uma “desculpa” para um enredo. Como é uma desculpa a personagem Charles Mason (Dean Harrens): ele aproveita o feriado de final de ano para voltar a San Francisco, onde irá se encontrar com sua noiva e pedi-la em casamento. Antes disso ele recebe uma carta dela informando que já casara com outro. Magoado, resolve assim mesmo ir à sua cidade. Em meio a problemas com a chuva, seu avião apresenta problemas e ele é obrigado a esperar em Nova Orleans.


Numa boate, conhece Jackie Lamont (Deanna), uma cantora, tão triste quanto o que canta. Os dois começam a conversar, e, ao longo da noite, ela lhe revela detalhes de sua história, quando ele começa a mudar o conceito do que seja o amor, o seu amor. Na verdade Jackie se chama Abigail, e após poucos meses de casamento descobriu que o seu marido Robert Manette (Gene Kelly) não era o que parecia ser: superprotegido pela mãe, tornou-se um homem fraco, viciado em jogos e que numa confusão acabou por matar um homem. Foi preso.


O filme, quase todo em flash-back, abusa dos cenários escuros, enfatizando a tensão sofrida por Abigail, que ainda ama seu marido, e lhe é fiel, apesar dele estar preso há mais de três anos. Não obstante a isso, ela própria vive sua prisão ao refugiar-se numa boate e cantar todas as noites. Robert Manette, por sua personalidade, vê na esposa sua última tentativa de conserto. A mãe deste (Gale Sondegaard) forma com os dois um estranho triângulo, cercado de tensão e cobrança. A sogra também assina a sentença de Abigail, a lhe dizer que é obrigação da esposa mudar o marido. A jovem, apesar de se entregar ao casamento com esmero, não consegue, aos olhos da Sra. Manette “salvar” o filho de uma fraqueza emocional que é, na verdade, só dele. A moça parece ser uma femme fatale, aos olhos da sogra, e vestir-se como tal só aumenta a terrível solidão que ela sofre.

SPOILER 

O final nos traz um surpreendente reencontro do casal, que traz, no mais alto padrão noir, o medo do desfecho cruel. Gene Kelly, irreconhecível, com o rosto fechado, aplica a Robert o caráter fraco do condenado, que foge para ver a esposa que julga tê-lo traído, ao se tornar uma cantora de boate. Abigail defende-se ao afirmar ser ele o seu único amor, e aquela a sua única ruína. O final, um drama de libertação. A sentença: não veja este filme no natal.

 

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