19 de abril de 2025

Frances (1982): A História Real e Trágica de Frances Farmer

Frances (1982) retrata a vida intensa e trágica de Frances Farmer, com uma atuação inesquecível de Jessica Lange indicada ao Oscar.

FRANCES, Jessica Lange, 1982

FRANCES, Jessica Lange, 1982

Talvez você nunca tenha ouvido falar de Frances Farmer, mas se eu fosse lhe apresentar, diria que foi uma mulher cheia de sonhos, de posições firmes e que não se adaptou ao mundo irreal do cinema. A atriz conheceu relativo sucesso durante sua meteórica passagem pelos filmes, e chegou a estrelar ao lado de Cary Grant e Tyrone Power, e no seu primeiro filme era apontada como a nova Greta Garbo. Desde o princípio, porém, ela não aprovava o star system (sistema das estrelas), e achava mesmo difícil se adaptar a roteiros fracos e sem conteúdo, negando-se muitas vezes a posar para fotos como starlet.

Frances não conseguiu aproveitar plenamente a fama que lhe chegava e seus fantasmas internos afloraram com o tempo e a pressão. Ela era considerava anti-social em um mundo que engolia sem mastigar. Infelizmente sua fama quando chegou até nós foi através de seus posteriores problemas com alcoolismo e constantes internamentos psiquiátricos. Há boatos sobre uma violenta lobotomia a que teria sido submetida. Incompreensão, injustiça e problemas com bebida fazem parte de sua biografia.

Em 1982 chegou às telas “Frances”,  dirigida por Graeme Clifford. Adaptada de uma biografia ficcional escrita por Arnold Shadowland, o roteiro foi escrito a três mãos, por Eric Bergren, Christopher De Vore e Nicholas Kazan (filho de Elia Kazan). Claro que como uma biografia ficcional de uma pessoa real traz alguns incômodos, como a pretensa relação doentia da atriz com sua (malvada) mãe, e o longa compra a ideia de que a atriz realmente foi submetida à tão temida lobotomia.  Mas olhando sob um viés puramente ficcional é possível tirar momentos de pura emoção.

Várias atrizes foram sondadas para o papel principal, como Patty Duke, Mia Farrow e Liza Minnelli, mas dificilmente alguma delas saberia captar a personagem como Jessica Lange. A atriz dá o desempenho de sua vida como Frances, estando presente em cada momento dolorosamente real. Ela chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz daquele ano, perdendo para Meryl Strepp com sua performance em “A Escolha de Sofia”.
O filme vale a pena ser visto também pela questão do abuso da lobotomia, um procedimento violentíssimo que cortava o nervo no cérebro (através do nariz) e tornava o paciente incapaz de captar os sentimentos mais profundos, diminuindo assim a capacidade de raciocínio e criatividade. Era indicada para pacientes esquizofrênicos mas também aplicado em pessoas com tendências homossexuais, dentre outros. É devastador imaginar a tragédia que isso causava nessas vidas. E essa é a questão trazida por este filme, que visto como uma ficção chama a atenção sobre a perda da liberdade de sentir (inclusive o amor) e agir.

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