Judy Garland estava afastada havia quase quatro anos das telas, quando a MGM rompeu o contrato que mantinha desde sua adolescência, demitindo-a em meio às filmagens de Annie Get Your Gun, quando a atriz entrou em colapso nervoso. Desde jovem Judy lutava contra a depressão e vício em medicamentos, aumentado por seu crescente alcoolismo. Receitados pelos médicos da MGM quando ela ainda era uma adolescente, traria consequências trágicas à vida da atriz e cantora. Judy foi uma espécie de amostra do que a fama precoce e o excesso de trabalho podem acarretar. atrasos nas filmagens, indecisões e interrupções eram uma constante.
O resultado disto foi sua demissão, depois de uma parceria de tantos anos com a MGM, e que rendeu clássicos como “O mágico de Oz” (Wizard of Oz), Desfile de Páscoa (Easter Parade) e “Agora seremos felizes” (Meet me in St. Louis). Ela dava muito lucro à MGM mas estava causando impecilhos, e a empresa ao se deparar com uma mulher fragilizada pela doença, não teve dúvidas em descarta-la. Sem um contrato certo, ela partiu para carreira de sucesso, como cantora, apresentando-se em grandes teatros dos Estados Unidos e Europa, onde ninguém esquecia a garota de Oz.
Mas estava na hora de um retorno às telas, e para isso precisavam de uma história e elenco de peso. Garland já tinha apresentado um desejo de re-filmar o clássico “Nasce uma Estrela” (A Star is Born) de 1937, estrelado por Janet Gaynor e Fredric March, porém L.B. Mayer negara seu pedido. Agora teria sua chance. Estava tensa e nervosa, pois com o tempo, desenvolvera um pânico de interpretar, alimentado pelos anos de vício em barbitúricos aliado ao álcool. Cary Grant foi a primeira opção para co-protagonizar, mas não quis assumir devido às inconstâncias da atriz. Os dois eram amigos e ele nachou melhor não se indispor com ela, devido à fama de Judy de não cumprir horários . James Mason, astro em ascensão, acabou ficando com o papel de Norman Maine. George Cukor, conhecido como extremamente paciente com as estrelas com quem trabalhava, dentre elas Greta Garbo, Katherine Hepburn e Ingrid Bergman, foi escolhido para a Direção.
Na história, Norman Maine (Maison), astro de cinema decadente e alcoólatra, conhece Esther Blodgett (Garland), uma sonhadora artista que deseja o estrelato. Os dois se casam, Maine incentiva a carreira de Esther e esta começa a se transformar numa grande estrela, mudando seu nome para Vicky Lester. Começam seus problemas, pois o marido que a incentivou começa a ver sua própria carreira de ator declinar, por causa da bebida e insegurança.
Filmado em cinemascope, o precursor do widescreen, teve em sua versão original 3 horas, pelo menos 30 minutos e um número inteiro, chamado “Born in Trunk” foram cortados. Finalmente, em setembro de 1954 o filme estreou com enorme sucesso de público e crítica. A Variety, o New York Times e a Time elogiaram a atuação da atriz, que ressurgia após um período afastada das telas, e chamando a atenção para os anos em que se dedicara à música. Judy e Mason ganharam o Globo de Ouro de melhores atores do ano e o filme foi indicado a 6 Oscars. Judy se tornou a favorita ao prêmio da Academia, tendo como concorrentes Audrey Hepburn (Sabrina), Jane Wyman (Sublime Obsessão) e Dorothy Dandridge (Carmen Jones) e… Grace Kelly (Amar é sofrer). No momento considerado uma das maiores injustiças da história do Oscar, Hollywood disse não mais uma vez àquela que teve a melhor interpretação do ano, dosando perfeitamente momentos de comédia, musical e drama para entregar o Oscar para Grace Kelly, num aguado papel em Amar é sofrer.
Após o evento, Judy Garland ainda estrelaria alguns filmes, mas nenhum grande sucesso, e teria sua vida, mais do que nunca, calcada na música, apresentando-se em diversos locais, tendo um programa de TV e sendo relembrada como a doce Dorothy de O mágico de Oz. O gosto amargo da derrota por algo tão sem sentido, deixou um constrangimento geral, de críticos, fãs e amantes do cinema em geral. Mas a atriz levantou-se mais uma vez e provou, através da Imortalidade, que não só de Oscars se faz uma carreira, mas de sentimento e glória, que só os que lhe amam podem reconhecer.