O Colecionador, de John Fowles, traz um dos personagens mais perturbadores da história da literatura. O suspense que se tornou um best-seller desde seu lançamento em 1963 traz a história de Freddie Clegg, um jovem frustrado que enriquece de uma hora para a outra após ganhar na loteria. Cheio de conflitos psicológicos, tem uma personalidade excêntrica, coleciona borboletas e não tem amigos. Apaixona-se platonicamente por Miranda, uma estudante de artes, e passa a persegui-la por todos os cantos até saber de todos os seus hábitos.
O ápice da obsessão chega quando ele decide fazer com ela o que faz com suas borboletas: sequestrando-a, leva-a para uma propriedade que comprara e a deixa em um quarto fechado. Aparentemente Freddie nutre um grande descompromissado amor pela jovem. É quase carinhoso, cobre-a com pequenos luxos e a melhor comida. Em sua gaiola de ouro, Miranda conta os dias, e começa a duvidar que sairá viva dali. Para Freddie, a situação é extrema, mas, para sua cabeça perturbada, é necessária, já que não tem amigos ou qualquer pessoa que o ame. Parece desesperador pensar que, por causa da narrativa, e como as coisas são conduzidas, chegamos a ter pena do personagem. E é aí que nos sentimos culpados, pois Freddie é o perfeito manipulador. Miranda, para ele é apenas algo que ele adquire, um bibelô, um objeto, ou uma borboleta, como frisei logo acima. Amor não aprisiona, e sim liberta. Mas Freddie não parece entender.
Dois anos depois do lançamento do livro, The Collector chegava às telas. William Wyler, um diretor com uma imensa bagagem nas costas (dirigiu O Morro dos Ventos Uivantes, Ben-Hur e A Princesa e o Plebeu e outros grandes sucessos) estava às voltas com as gravações de A Noviça Rebelde. Porém, estava visivelmente desapontado com o trabalho, não queria mesmo dirigir um musical. Alguns indícios indicam que um dos motivos que o fizeram abandonar tudo foi seu interesse pelo roteiro de O Colecionador. Naquele momento específico, parecia bem mais interessante ao veterano diretor um suspense psicológico do que um musical. Abandonou o primeiro e dedicou-se ao segundo, que traria Terence Stamp e Samantha Eggar como os personagens principais.