Roselyn Tabor (Marilyn Monroe) é uma mulher fragilizada, refugiando-se em Nevada durante o processo de divórcio. Lá conhece três homens também castigados pela vida: Gay (Clark Gable), um velho vaqueiro, abandonado pela esposa que o trocara pelo primo, e com quem Roselyn inevitavelmente acaba tendo um romance; Guido (Eli Wallach), um taxista que lhe oferece a casa que vivera com sua mulher, morta em trabalho de parto “Talvez estivesse viva se falasse o que sentia, se vocês se comunicassem mais”, preconiza Roselyn a respeito do evento e Pearce (Montgomery Clift), um jovem e decadente vaqueiro que vive sozinho.
Confira algumas fotos dos bastidores:
Almas em desespero, vivendo simplesmente, tentando esquecer suas realidades. Roselyn vai viver com Gay, num processo de negação do mundo, de si mesma. Os três homens apaixonam-se por ela, que permanece fiel a Gay e a si mesma. E cada qual tenta de sua forma conquistá-la, Guido traindo o amigo e Pearce sendo de certa forma tão frágil quanto ela.
A personagem Roselyn nos remete biograficamente à própria Marilyn, e não é somente impressão: Gay acha-a triste, e lhe diz isso. Ela retorna dizendo que é o único que percebe isso, já que todos acham-na feliz. Pensamos até que ponto não estamos falando da própria atriz. Arthur Miller quando escreveu o roteiro inspirou-se em Marilyn, com quem era casado.
Quando as filmagens se desenrolavam, os problemas já constatados em outros filmes da diva loura se repetiam: faltas, ausências prolongadas, internamentos, crises por causa dos remédios, crises existenciais, alcoolismo, inseguranças… Os remédios eram tão fortes que prejudicavam sua aparência, pois ela parecia estar sempre dopada. Particularmente Marilyn não gostara da personagem, achando-a quase patética em sua fragilidade, chorando por todos, por ela, homens, animais. Não era a personagem forte que Miller lhe prometera um dia. A atriz viveria somente mais um ano, morrendo sozinha em circunstâncias até hoje misteriosas.
Tampouco Montgomery Clift estava bem: entregue ao álcool devido ao trauma sofrido em acidente automobilístico que deformara seu rosto. Jamais conseguiria se reerguer: “Meu rosto está bem, você iria reconhecê-lo”, diz em uma das cenas em que fala com a mãe ao telefone. Montgomery morreria em 1966, com apenas 45 anos e dependente de drogas e álcool.
Clark Gable sofria com problemas no coração, e o veterano ator, reconhecido como o maior dos galãs, sentia o peso da idade. As cenas arriscadas eram um perigo, mas ele mesmo assim se arriscava, negando-se a usar dublê durante a cena em que é arrastado pelo cavalo. O galã não mais empolgava, era uma sombra de si mesmo. Tanto que para choque de todos da produção, poucas semanas após terminar as filmagens, ele morria de um ataque cardíaco.
The Misfits tornou-se, com isso um dos filmes mais angustiantes já realizados no cinema. A película, que contava com pessoas tão cansadas quanto suas próprias personagens, acaba se tornando um grande questionamento ao casamento e à vida.
“Estamos todos morrendo, todos os maridos, todas as esposas”, fala Roselyn/Marilyn em determinado momento, com todas as discussões acabando carregadas de tensão, pois cada um em seu mundo defende suas angústias. Ela ama a vida, mas tem medo, ao passo que não gosta de ver nada morto. Gay lhe ensina que até a morte faz parte da vida, e ela não pode negar isso. Por isso, para Gay um homem gentil como ele também mata. Mata inclusive as esperanças de uma mulher que tenta se erguer. Um triste filme para se assistir e pensar sobre o limite tênue entre a obra e a realidade de seus atores, um filme não tão distante de suas próprias realidades.