A premiação do Oscar de 1941 é lembrado por muitos como aquela que deu o prêmio máximo para “Como era Verde o Meu Vale” preterindo “Cidadão Kane”, produção considerada em termos técnicos superior à primeira. Filmes como Perfídia, Relíquia Macabra e A Porta de Ouro corriam por fora. A Porta de Ouro não tinha grandes expectativas, mas conseguiu indicações às principais categorias como o já citado Melhor Filme, Atriz, Fotografia, Roteiro Adaptado e Direção de Arte. Olivia de Havilland competia neste ano com Joan Fontaine, e sua irmã acabou abocanhando o Oscar por sua atuação em Suspeita, de Alfred Hitchcock.
Revendo “A Porta de Ouro” recentemente, me perguntei como um filme com tal currículo ficou durante tanto tempo esquecido. Para começar, Billy Wilder e Charles Brackett assinaram o roteiro, e se irritaram profundamente quando uma das cenas foi sumariamente tirada da edição final por decisão do diretor Mitchell Leisen e do ator Charles Boyer, que acharam ridícula a cena do personagem Georges falando com uma barata. Mas tal discussão acabou sendo proveitosa para Wilder, que a partir de então passou a dirigir seus próprios filmes.
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Uma das cenas mais marcantes do filme e que me fez refletir sobre essa imagem de sonho que os americanos plantaram, é a da mãe gestante que sonha em ter seu filho em terras ianques. E ela vai até as últimas consequências para que isto seja possível. Mas será que é um sonho válido? Será que esse sonho de refazer a vida em outro país é a única possibilidade de progredir? Bem, o país onde todos os sonhos são possíveis monta barreiras para que nem todos possam entrar, e a imagem de modernidade e avanço esbarra nas dificuldades para adentrar neste mundo. Em determinado momento, um americano mostra para Georges os prédios de Hollywood: “Você nunca viu prédios tão altos de onde vem!”. Em consonância com esta realidade dos imigrantes, está o hotel onde todos se hospedam e que se chama “Esperanza”.
Com atuações muito sólidas, destaco a de Charles Boyer, um ator francês que estreloumais de oitenta películas, a grande maioria na América. Neste período ele gozava de grande fama, atuando ao lado de grandes estrelas como Bette Davis, Marlene Dietrich, Irene Dunne, Claudette Colbert e Ingrid Bergman. O papel de um gigolô charmoso lhe caía muito bem devido ao tom cínico que ele carregava no olhar. Suas companheiras de tela não estão menos mal. Ambas em seu estilo, Olivia com um tom interpretativo sempre calcado na leveza e Goddard acendendo seu lado sapeca visto em tantos outros filmes.
Uma curiosidade do filme: quando Georges entra no estúdio para falar com o diretor, vemos Veronica Lake e Richard Webb ensaiando para uma cena do filme I Wanted Wings. É muito interessante essa intertextualidade com outra produção, porque fica aquela sensação de espiar pelos bastidores dos filmes. I Wanted Wings estreou também em 1941.