Se há alguma certeza que tenho na hora de escolher um bom filme, reside em muito no poder de desenvolvimento da história que alguns diretores tem. Ernst Lubitsch está nessa lista , que na minha pessoal incluo alguns como Alfred Hitchcock, Howard Hawks, John Ford, Federico Fellini, Satyajit Ray e Frank Capra. O mestre das comédias sofisticadas nasceu na Alemanha, mas logo cedo atraiu o interesse de Hollywood, partindo para a América ainda na década de 20. Na década seguinte já estava no topo dos cineastas mais renomados. Dentre suas melhores películas estão Ninotchka (anunciado com Greta Garbo ri!), Sócios no Amor (onde Gary Cooper e Fredric March disputam o amor de Miriam Hopkins) e a deliciosa comédia romântica A Loja da Esquina (com James Stewart). Outro de seus aclamados filmes é Ser ou Não Ser (1942), lançado recentemente pela Obras Primas do Cinema, e que durante um bom tempo ficou marcado pelo destino.
Vamos à sinopse: Um grupo de atores se apresenta na Polônia. Eles são reconhecidos por sua deliciosa canastrice, e não consegue emplacar muitos sucessos. Explode a guerra e eles resolvem fazer alguma coisa para impedir os nazistas. É neste momento que se dão conta que, afinal, eles não são tão ruins assim interpretando, já que conseguem enganar direitinho os servidores do ditador.
Ser ou Não Ser hoje é reconhecido como uma das maiores comédias de todos os tempos, mas no período enfrentou algumas dificuldades de aceitação. A primeira diz respeito ao tema, bastante delicado, já que Adolf Hitler ainda estava vivo e eram reconhecidas as barbaridades cometidas por ele. Brincar com um assunto tão tenso era mesmo difícil. Em 1940 Charles Chaplin tinha lançado “O Grande Ditador”, uma comédia que brinca com um homem do povo tomando o lugar do ditador. O diretor comentou em sua biografia que teria se arrependido, pois na época não sabia muito sobre o as barbaridades que o homem teria feito, e se pudesse voltar no tempo não teria concebido o filme. Dois anos depois Lubitsch lançaria seu filme, mais uma comédia que brincava com o nome do maior ditador de todos os tempos. Brincar com um assunto intensamente sério como esse requeria altas doses de sutileza, algo que não era incomum nos textos inteligentes de Lubitch. Isso porque além de dirigir, ele participava de todas as fases pré e pós fílmicas, dando o seu toque tão conhecido. Mesmo assim não foram poucos os críticos que viram o assunto como um extremo mal gosto. O roteiro satiriza a todo o tempo a insanidade dos nazistas, mas naquele momento ainda era algo difícil de digerir.
Outro fato que abalou profundamente a pós produção foi a repentina morte de Carole Lombard, após uma viagem realizada para venda de bônus de guerra. A notícia arrasou a todos os seus fãs e profissionais. Uma das suas falas, que citava acidente aéreo, foi retirada do roteiro. Mas como rir com uma comédia vendo aquelas que seriam as últimas cenas de uma jovem mulher?
Hoje, décadas depois do seu lançamento, o filme consta em várias listas de melhores comédias de todos os tempos e vale a pena ser assistido não uma, mas diversas vezes. A oportunidade está no lançamento feito pela Obras Primas do Cinema. O dvd traz ainda um documentário de 54 minutos para quem deseja imergir no mundo de Lubitsch e conhecer um pouco mais sobre sua obra. A edição pode ser adquirida em qualquer loja do ramo e encontra-se à venda também na Livraria Cultura (clique aqui para ser redirecionado).