A Tocha de Zen (1971)

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O público ocidental está acostumado com filmes hollywoodianos e seu movimento. Para estes pode ser estranho encarar aqueles de outros países fora de nossas vistas, devido às diferenças culturais e ao  próprio movimento. O fato é que muitas vezes perdemos a oportunidade de conhecer outras cinematografias tão desenvolvidas quando a que conhecemos. A Obras Primas do Cinema vem trazendo ao público brasileiro alguns interessantes filmes que anos atrás dificilmente encontraríamos por aqui. A Trilogia Apu (coletânea dos maiores sucessos de Satyajit Ray) foi uma delas. Agora chegam em nossas mãos A Tocha de Zen (1971), de King Hu.

O clássico tailandês traz a história de Yang Hui-ching (Feng Hsu), uma mulher que é caçada pela lei após terem assassinado seu pai. Ela irá se refugiar em uma pequena cidade. Lá conhece Shen Chai, um artista inteligentíssimo, e que a ajudará a se livrar de seus perseguidores. A Tocha de Zen é conhecido também por sua fotografia marcante, e também é algo que me chamou logo a atenção. Filmes orientais trazem um movimento diferente, mais lento e contemplativo, e a trilha sonora acaba contribuindo para isso também.
Logo de início temos uma apresentação da natureza do local. São utilizados simbolismos em grande parte do filme, simbolizando uma natureza confusa e manipuladora de seus personagens. As batalhas são interpretadas como uma disputa entre o bem e o mal, uma parábola sobre virtudes budistas e a iluminação. Lentes angulares foram utilizadas para enfatizar os cenários e as cenas de luta seguem uma coreografia espetacular. Gosto também dos efeitos especiais, levando-se em conta que hoje em dia possam ser considerados ultrapassados.  Apesar de quase três horas de exibição, ele chamou a minha atenção para mais uma coisa.
Tive a impressão que Tocha de Zen é que ele poderia ser classificado como um faroeste tailandês. Explico-o. Claro que você poderá me questionar que se trata de um gênero puramente americano, e é. E eu confesso que tenho pouca base em filmes tailandeses para comparar. André Bazin já disse que esse era um gênero americano por excelência, e que depende de certas características que lhe definem. Sendo assim, como poderia existir o spaghetti italiano? O fato é que existem algumas características que pelo menos podem aproximar o clássico tailandês desse gênero: O homem solitário, no caso a mulher solitária (na figura de Yang Hui-ching): ela vem para a cidade com uma história de perseguição. Tem também o seu bando que lhe ajuda nos momentos mais difíceis. Ela não traz um revolver, mas sua espada está sempre ao seu serviço. A cidade fronteiriça é pequena e composta de poucas casas, assim como poucos moradores que se revezam em pequenas atividades laborais. Os confrontos físicos acabam por se tornar constante com as brigas motivadas por inimigos e defensores de Yang. Eles atravessam várias extensões de terra e param em locais para se defenderem. Enfim, estão lá algumas das características do gênero americano levado à grandeza por John Ford.
Enfim, por todos esses motivos ou por simples curiosidade, vale a pena dar uma conferida Em A Tocha de Zen, que acabou se tornando um grande lançamento este ano.  O filme foi restaurado em 2015 e a edição que recebemos através da Obras Primas do Cinema é essa. Vale a pena conferir também pelos extras: Entrevista com a atriz “Feng Hsu” (13 min.); Entrevista com “Chun Shih” (17 min.); Entrevista com o cineasta “Ang Lee” (13 min.). Você pode adquirir através da Livraria Saraiva ou em qualquer loja do ramo.

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