Uma Jovem Tão Bela Como Eu (1972)

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François Truffaut era um grande admirador da alma feminina, e amava sobretudo as femmes fatales, que invadiram alguns de seus filmes. E elas não eram puramente expectadoras de suas histórias, mas antes, as personagens principais. Aqui, Camile Bliss é uma mulher esperta, que não medirá esforços para chegar ao que almeja: ser uma cantora, embora seja a a mas desafinada das criaturas. Sendo impecavelmente linda e sedutora, aproveita-se de seus trunfos e da tontice de alguns homens que encontra para conseguir realizar seu sonho. Ela é, antes de tudo, uma otimista por natureza.

Stanislas Prévine (André Dussollier – Marie Poupée), por sua vez, é um jovem idealista e estudante de sociologia. Prepara um trabalho sobre mulheres criminosas, e vai à cadeia entrevistar Camille Bliss. Justamente ela! Mesmo tendo recebido indicações para outras, menos perigosas, ainda assim prefere a bela criminosa. Com a faca e o queijo na mão, Camille começa a lhe contar sua versão dos fatos que antecederam a sua prisão, da infância, quando matou “acidentalmente” seu pai, até o envolvimento com quatro homens diferentes. Prévine acaba seduzido pela pobre moça e aos poucos cai de encantos. Uma Jovem Tão Bela Como Eu conta com um grande elenco, além dos citados, Charles Denner (no papel do amante ingênuo) e Philippe Léotard (como o marido traído) e completando o quarteto de homens devotos, Guy Marchand e Claude Brasseur.

Mas o grande nome é mesmo o de Bernadette Lafont. Flertando com o humor negro, essa espécie de chanchada funciona em grande parte graças à desenvoltura dea atriz, bem à vontade no papel de Camille. Bernardette, que estreou em um curta de Truffaut, Les Mistons, é a cereja do filme com seu charme e desenvoltura, tanto que nos vemos torcendo por sua personagem, nem um pouco politicamente correta. O aglomerado de histórias contadas em flashbacks pela personagem e suas reviravoltas nos envolve numa teia e também deixa-nos sem imaginar um final plausível. E é aí que reside a grande graça dos filmes do diretor criador da nouvelle vague. A surpresa sempre constante, o não saber o que nos espera. O resultado é uma película deliciosa, que mescla um pouco de cada estilo já trabalhado pelo diretor, que demonstra maturidade na escolha consciente na miscelânea de gêneros nesse filme.
Uma comédia que faz com que terminemos com um imenso sorriso no rosto.

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