Há 47 anos Charles Chaplin retornava à América. E foi emocionante!

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Em 1972 Charles Chaplin estava com 82 anos. No ano anterior fora homenageado no festival internacional de Cannes. Este lhe concedera um prêmio pelo conjunto da obra. Nesta mesma época recebeu a insígnia de Comandante da legião de honra. Chegava a hora de retornar à América, país que o recepcionara na década de 1910s e o expulsara em 1952.

E depois de uma ausência de 20 anos e um novo governo, os Estados Unidos voltavam o olhar para o ator que obteve fama na América. Mas ao mesmo tempo inflamou aqueles que o consideravam um perigo para a ordem pública por ter ideais diferentes do que o país esperava.

Em 1952, Chaplin sentiu-se imensamente traído pela pátria que lhe enriqueceu e que considerava um lar. Ser tratado como um inimigo público o enraiveceu e o magoou profundamente. Milionário, o diretor refez sua vida na Suiça e continuou a trabalhar até enquanto pode. Tudo isso ao seu lado, Oona, esposa e amiga que permaneceria ao seu lado até o fim.

Chaplin de volta à América. Foto: Alamy stock.

Em 1972, havia no ar uma névoa de “perdão”. E de desconfiança por parte de Chaplin. Não fora a primeira vez que ele foi convidado a retornar. Era um medo constante de ser massacrado, e que ele, aos oitenta e poucos anos, tinha medo de não saber lidar. Dessa vez a Academia gostaria de conceder-lhe um Oscar honorário.

Já no hotel, recebeu vários convites. Dentre eles um para participar de uma festa onde reencontrou amigos da juventude e outros nobres ilustres: Lilian Gish, Geraldine Fitzgerard e Truman Capote foram alguns.

O retorno de Charles Chaplin à América e a recepção de amigos e colaboradores

Em 1972 já não existiam mais proibições quanto ao seu retorno. Apenas medo por parte do diretor idoso. Mesmo assim, um oscilante Chaplin aceitou. Talvez a curiosidade fosse maior, e a onda de nostalgia. Mesmo assim ele levou a sua inseparável Oona.

Jackie reencontra Jackie Coogan, que interpretou O Garoto

E foi assim que em 2 de abril de 1972, o avião que trazia o diretor inglês posou no aeroporto de Nova York. À sua espera haviam jornalistas, fãs e alguns amigos e colegas de trabalho de longa data. Por simpatia, ele chegou a fingir que conhecia alguns, mas a verdade é que a memória começava a falhar.

Um dos encontros mais emocionantes foi o com Jackie Coogan, agora um senhor de 58, careca que interpretava o tio Funério e que há muito tempo deixara de parecer-se com o garoto que atuara ao seu lado em The Kid. Apesar da perceptível diferença, o diretor o reconheceu imediatamente e pediu aos seguranças que o deixassem passar. Ao cumprimentá-lo, Chaplin lhe falou: “Que prazer ver você, garoto”. E então choraram. Virando-se para a então esposa de Jackie comentou: “Você não deve esquecer nunca. Seu marido é um gênio.”

Algumas festas em sua homenagem eram extremamente cansativas, mas ao mesmo tempo que diminuíam o medo da rejeição, bem fortemente enraizado nele. que se transformou em alegria quando um público de mais de 1500 pessoas se dirigiu a um concerto no Philarmonic Hall, tão somente para vê-lo.

Chaplin, Oona e sempre uma grande multidão.

Mas ele reconheceu imediatamente Georgia Hale, que trabalhou com ele em Em Busca do Ouro (1925). Ele fez questão de elogiar sua boa forma dizendo que ela não envelhera nenhum pouco ao longo dos anos. A atriz estava com 72 anos. Infelizmente não encontrei fotos do reencontro.

Ao receber uma salva de palmas após a exibição de O Garoto, ele se emocionou e quase gaguejando agradeceu aos presentes. O homem de mais de 80 anos estava exausto, mas tomado de satisfação. O medo dera lugar à alegria e ele parecia preparado para enfrentar a entrega do prêmio, marcada para dali a dois dias.

 

Reencontro com Paulette Goddard

A página Discovering Chaplin publicou uma foto do reencontro dele com Paulette Goddard, sua ex-esposa e amiga. Segundo o site: ela se aproximou dele e disse: “Olá querido”. No que ele se virou ao ouvir sua voz e respondeu com os olhos cheios de lágrimas: “Oh meu bebezinho”. Ela respondeu: “Sim, seu único bebezinho”. Não tenho ideia do que Oona pensou nesse momento, mas Paulette foi uma das mulheres com quem ele foi mais feliz em sua vida. Os dois estiveram juntos por 10 anos. E uma história assim não se enterra.

Declarações para os jornais e uma imensa saudade de quem já partira

Dentre as declarações que o diretor deu aos jornais estava este: “Fazer amigos sempre foi difícil para mim. Eu sou tímido desarticulado. Doug Fairbanks era meu único amigo de verdade, e eu era alguém que ele exibia nas festas.” Douglas, aliás, era uma das pessoas mais citadas por ele. Até mesmo enquanto sobrevoava Los Angeles e revia alguns lugares onde trabalhara e vivera sua juventude.

O ator e diretor não esteve sozinho um só momento.

Quem retorna a um lar sabe bem a sensação que é: ele olhava os prédios, as mudanças e se compadecia de que velhos locais agora estivessem tão mudados. Eram outros tempos. Alguns momentos ele ficava triste. Tudo estava tão diferente. Os carros, as construções. Quando pedido para sorrir, declarou cheio de graça “receio que meus dentes possam cair”.

A cerimônia do Oscar ocorreu no dia 4 de abril. Nesse momento ainda, ele teve medo, mas o tanto de carinho fez com que o temor fosse minimizado. Um vacilante Chaplin subiu as escadas para ser homenageado. E foi um dos momentos mais felizes de sua vida.

Fonte: Chaplin, a biografia completa, de David Robinson. Páginas: 649 a 654.

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