Marni Nixon, a Voz que Hollywood Escondeu

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Talvez você não conheça Marni Nixon, mas se ama Cinema Clássico com certeza já ouviu sua voz.

Cena de Cantando na Chuva: a personagem de Debbie Reynolds se esconde atrás de uma cortina para dublar a atriz principal que aparece para o público. Bem, era basicamente isso que Marni Nixon e outras cantoras “fantasmas” faziam. Com o advento do cinema falado, vieram os musicais. E nem sempre havia atores e atrizes com vocais que pudessem ser utilizadas nas músicas. Com isso, vários cantores e cantoras foram chamados para dublar os astros principais. Nomes como India Adams, Bill Shirley, Jo Ann Greer e Betty Wang são desconhecidos do grande público, mas as suas vozes podem ser conferidas em filmes com Cyd Charisse, Jeremy Brett e Rita Hayworth, por exemplo. Marni Nixon se tornou uma das desconhecidas mais conhecidas desse ramo.

Nascida na Califórnia em 22 de fevereiro de 1930, começou a cantar em coros ainda na infância. Posteriormente se profissionalizou como soprano clássico. Descoberta pela MGM, iniciou um trabalho de sucesso. Em um de seus primeiros trabalhos dublou a atriz mirim Margaret O’Brien em O Jardim Encantado:

Marilyn Monroe cantava muito bem, mas não conseguia alcançar as notas altas em  Os Homens Preferem as Loiras. Mais uma vez, a cantora foi chamada para complementar o trabalho da mais famosa loira:

 

O primeiro trabalho de grande destaque, porém, veio com o musical O Rei e Eu (1956), onde dublou toda a parte musical de Deborah Kerr. As duas se tornaram muito amigas. Certa vez Deborah foi elogiada por sua voz no filme, mas ao contrário de tantas outras, disse de quem de fato era a voz encantadora:

 

Com Audrey Hepburn passou por uma experiência difícil, já que a atriz havia treinado bastante para cantar todas as músicas do filme. Porém, os produtores não acharam seu tom de voz ideal para a personagem de Minha Bela Dama. Audrey sentiu-se magoada, mas no final acabou aceitando. Abaixo uma gravação com a voz original de Audrey:

E a versão final com a voz de Marni:

Não há dúvidas que a versão com a voz de Marni é vocalmente superior. No entanto, Audrey conseguiu, em seu próprio tom trazer um momento único no cinema quando cantou Moon River no filme Bonequinha de Luxo. A cantora chegou a comentar que “Audrey não sabia quanto do seu trabalho seria feito por outra pessoa. Não sabia que tudo seria jogado fora e que apenas minha voz seria usada”. Em 2007 Marni iria repetir a dose no concerto My Fair Lady. Mas dessa vez interpretando a mãe do prof. Higgins.

Marni ao lado de Deborah Kerr

O mesmo já havia acontecido com Natalie Wood em Amor Sublime Amor (1961). A atriz pensava que teria apenas seus vocais mais altos dublados pela cantora. Enquanto Audrey aceitou perfeitamente, Natalie ficou extremamente revoltada. “Não acho que o ego de Natalie Wood podia aceitar isso.”, revelou Marni em uma entrevista. Para o azar de Natalie, a cantora também dublou algumas falas da atriz. Marni também chegou a dublar a voz de Rita Moreno, pois sua cantora oficial, Betty Wand estava doente. Para tanto, mudou seu timbre para que ficasse o mais próximo possível do esperado.

A cantora apareceu nas telas apenas uma vez, quando fez uma pequena participação como uma das freirinhas  de A Noviça Rebelde:

Com relação ao filme, há relatos de que naquele momento havia um clima de tensão no encontro de Julie e Marni. Julie sempre foi uma cantora excepcional, e encarnara a personagem Maria perfeitamente bem, não havendo necessidade de dublagens. No entanto, contrariando a todos, o encontro foi maravilhoso: Julie abraçou Marni e disse ser sua maior fã. Abaixo, algumas gravações de Marni dos mais famosos temas de A Noviça Rebelde:

 

 

Em 1967 ela participou de João e o Pé de Feijão. O filme trazia uma junção de atores reais e animações. Marni dublou a harpa. Creio que alguns ainda lembrem desse filme, que passava bastante na sessão da tarde:

Marni tinha um trabalho paralelo também como professora dos Instituto de Artes da Califórnia e na Academia de Música do Ocidente. E quando as ofertas para o cinema rareavam, desenvolveu trabalhos na Broadway, principalmente na década de 2000. A cantora também chegou a gravar músicas dos compositores Jerome Kern, George Gershwin, Arnold Schönberg, Charles Ives e Anton Webern. Uma das suas últimas participações em filmes foi ao dublar a avó na animação Mulan (1998):

 

Nixon foi casada três vezes: Ernest Gold (com quem teve três filhos, dos quais o músico Andrew Gold), Lajos Frederick Fenster e com Albert Block (de quem enviuvou em 2015).

Durante todo esse tempo, não foi creditada, embora tenha recebido todos os royalties da trilha sonora. Foi somente com o lançamento dos filmes em VHS que seu nome passou a ser lembrado. Tornou-se conhecida do grande público, principalmente após várias edições de dvd que citavam sua participação e entrevistas dadas a vários programas televisivos.

 

Marni Nixon morreu em 24 de julho de 2016 em Nova York. Foi vitimada por um câncer de mama.

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