Interlúdio (Notorious , 1946)

1903

Alicia Huberman (Ingrid Bergman) se sente perdida após o pai ser preso e condenado por traição. Ela não consegue se recuperar da decepção e passa seus dias em festas, onde abusa da bebida e dos homens. Em uma delas conhece Devlin (Cary Grant), um enigmático homem que ao contrário dos demais, não deseja só mais uma noite com ela.

Devlin lhe revela que ela estava sendo vigiada há tempos, e que o Governo norte-americano quer que ela parta para o Brasil em uma missão especial: ser uma espécie de espiã e ajudar a prender antigos companheiros de seu pai, que contrabandeavam urânio. O amor entra em cena quando Alicia e Devlin se apaixonam, mas precisam esconder de todos o romance. Foco no demorado beijo do casal que ultrapassava mais dos três segundos autorizados pelo código Hayes.

O elenco era o dos sonhos de Hitchcock. Se havia um ator que ele admirava, era Cary Grant. Em uma busca rápida pelo IMDB, percebemos que quase todos os seus filmes tinham o ator inglês como primeira alternativa. Mesmo aqueles em que ele não estava. E de fato Grant abrilhantava com sua participação, numa época em que seu nome era sinônimo de elegância e garbo. “Todos queriam ser Cary Grant. Inclusive eu!”, diria o ator mais tarde.

E o diretor lutou o quanto pode para tê-lo neste filme, inclusive quando a primeira indicação do estúdio foi Joseph Cotten. Mas Grant não estava só. Ao seu lado Ingrid Bergman entrega uma atuação contida e apaixonante da mulher que é usada do início ao fim da história. A atriz que atuou no ano anterior em Quando fala o coração (1945) e trabalharia no fracassado Sob o Signo de Capricórnio (1949), ambos de Hitchcock, também era uma das preferidas do diretor. Sua personagem parece testada do início ao fim, utilizada como joguete, em uma atividade que não tem escolha. Alicia é “convidada” a ajudar o governo, mas em troca receberá apenas um muito obrigado. Há algo mais narcisista do que esse pensamento estadunidenses?

Completando o trio principal, Claude Rains, único indicado do elenco ao Oscar daquele ano (Melhor ator coadjuvante). Rains era daqueles atores coringas que se adaptavam facilmente a qualquer tipo de personagem, e aqui dá vida ao nazista que tem uma linda mansão no Brasil , e é fascinado pela personagem de Ingrid Bergman. Aqui cabe uma curiosidade: o ator, que media 1:69, atuou na maior parte do filme em cima de um caixote, já que Bergman era uma mulher altíssima para os padrões Hollywoodianos: 1:79. O vilão de Rains, apesar de ser o antagonista do filme, tinha um enorme carisma, e estava preso em uma grande teia de vigaristas.

Interlúdio também concorreu ao Oscar de Melhor Roteiro, embora fosse um remake do filme silencioso O Comboio (1927), de Joseph Boyle e Lothar Mendes. O filme também tem um dos melhores trabalhos de fotografia e jogo de câmera, que enfatiza a angústia contida da personagem de Ingrid Bergman e também a aparente firmeza de Rains e Grant.

Segundo o diretor, em entrevista ao francês François Truffaut: “A história de Notorious é o antigo conflito entre o amor e o dever. O trabalho de Cary Gran – e esta é uma situação muito irônica – é empurrar Ingrid Bergman para a cama de Claude Rains. Dificilmente se pode culpá-lo por parecer amargo ao longo da história, enquanto Claude Rains é uma figura bastante atraente. Tanto porque sua confiança está sendo traída quanto porque seu amor por Ingrid Bergman é provavelmente mais profundo que o de Cary Grant. Todos esses elementos do frama psicológico foram introduzidos na história do espião.”

* Interlúdio foi lançado em dvd pela Classicline e pode ser adquirido em qualquer loja do ramo ou através da distribuidora, clicando na imagem abaixo:

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