Jagte Raho (1956)

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De vez em quando falo sobre algum filme indiano aqui no meu site. Tenho algumas matérias interessantes sobre o assunto e sei da dificuldade de chegarem por aqui no Brasil. Imagine os mais antigos! E a indústria de filmes clássicos deles é um pouco esquecida, não havia a cultura de guardar e preservar filmes. (Lembra de algum país que também não tem muito cuidado com seu material?

Alguns antigos indianos até são encontrados no youtube, mas raramente você o verá com legendas, porque simplesmente os filmes eram feitos para o mercado interno, ou então dublado em algumas das tantas línguas deles. As legendas não eram feitas. Para vocês terem uma ideia, o filme Mãe India (1957), primeiro indicado ao Oscar de filme estrangeiro da Índia foi prejudicado justamente porque não fez legenda. Então daí você já percebe a dificuldade que era a coisa. Mas há pessoas maravilhosas que fazem a bondade de legendarem alguns desses filmes, seja traduzindo do inglês ou do hindi. Esse aqui que estou falando teve a legenda feita por Marcia de Lima, uma grande fã do cinema indiano e que me introduziu no assunto. Bem, vamos ao nosso filme de hoje.

Não, ele não está com dor de dente. Apenas tenta imitar um punjabi e fugir da polícia

Embora nos créditos Sombhu Mitra esteja creditado como diretor, a maior parte das cenas foi dirigida por Raj Kapoor (que era o produtor também) e por Nargis (sim, ela também dirigia!). Isso quem diz é o livro biográfico The Kapoors (de Madhy Jain). O filme traz uma grande simbologia sobre religiões que mesmo diferentes podem e devem guiar as pessoas para o bem, independente de qual seja (mesmo quem não é religioso irá identificar a mensagem).

O personagem conversa com a figura do bêbado

Jagte Raho (que numa tradução literal seria Mantenha-se acordado) mostra um homem que chega em uma cidade morrendo de sede. E cada vez que ele tenta beber água algo acontece. E não são coisas simples. São ladrões que tentam fazer lavagem de dinheiro, são mulheres e maridos que se maltratam, são pessoas entregues às drogas, mas mesmo com tudo isso, o homem (que não tem nome) é tido como um assaltante e começa a ser perseguido por todos no lugar. Em uma das cenas mais lindas do filme, ele faz amizade com um cãozinho, e este parece ser a única personagem amigável que ele encontra na cidade até então.

O bêbado feliz

Enquanto foge dos moradores enfurecidos, ele descobre o quanto as pessoas podem ser falsas e cheias de vícios. Um conto alegórico sobre a escuridão e a luz para mostrar a verdadeira face das pessoas que aparentam ter uma vida respeitável mas na verdade são hipócritas e capazes das maiores atrocidades.

Uma foto rara da gravação de uma das cenas

O filme também traz um olhar satírico sobre a sociedade bengalense da época, mas poderia muito bem ser transportada para qualquer metrópole atual sem perder a relevância. Raj Kapoor quase não fala no filme, mas seu medo e dor podem ser vistos claramente em seu rosto. Isso prova que nem sempre podemos comparar o estilo de interpretação de ocidental da oriental. Neste Raj traz um estilo mais ocidental, e talvez nos identificamos mais com o personagem. Mas isso é assunto para outro post sobre o cinema indiano.

Nargis em sua ultima participação em filmes de Raj Kapoor

Esgotado e cada vez mais fraco, ele só pede um copo de água, mas consegue apenas de uma maneira bastante poética, ao final do filme. Quem conhece a história do ator e de Nargis, sabe bem o que aquela letra de música e cena significa. Ainda segundo o livro de Madhy Jain, Raj Kapoor chorou de verdade enquanto fazia a cena e entrou em uma depressão severa após aquela que foi a última cena dos dois. Porque sabia que aquilo significava a separação final deles e o fim de uma era para ambos. Para os fãs do casal é um final bem simbólico, quando ela é a única que lhe dá água, no filme. E na vida.

Para finalizar uma informação: O filme ganhou o Gran Prix no Festival Internacional de Cinema de Karlovy.

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(Não se preocupe, não tem vírus).

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