Nunca Deixei de Te Amar (1956) | Um Sirk sem Sirk

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Embora não creditado, há uma série de elementos neste filme que lembram outros trabalhos de Douglas Sirk. Estão presentes em Nunca Deixei de Te Amar (Never Say Goodbye) o drama de pessoas separadas por tragédias, as cores fortes em technicolor, a trilha sonora intermitente e a reviravolta final. O filme, no entanto, é assinado por Jerry Hopper, que fez outros trabalhos também no gênero mas se tornou mais conhecido pela série Viagem ao Fundo do Mar. Esse melodrama familiar traz grandes nomes como Rock Hudson (Um dos atores chave da cinematografia de Sir), Cornell Borchers, George Sanders e Shelley Fabares.


Nas primeiras cenas somos apresentados à realidade de Michael Parker (Hudson), um médico que vive na América com sua filha. Já em sua primeira cena temos a participação especial de Clint Eastwood como um auxiliar de Michael. Mas não espere muito, naquele período ele iniciava sua carreira com pequenas aparições. Esta não dura mais do que duas frases. Viajando para um congresso, o doutor reencontra em um bar a pianista Lisa Gosting (Borchers). Assustada, a garota foge e acaba sendo atropelada. Indagado sobre sua preocupação com ela, o médico revela se tratar de sua esposa.



A partir daí teremos a história narrada em flashback e descobrimos como o casal se conheceu. Lisa trabalhava em um bar tocando piano. Acidentando-se, é atendida por Michael. Os dois acabam se apaixonando, a despeito da presença constante de Victor (Sanders), melhor amigo e espécie de empresário de Lisa. Michael e Lisa acabam se casando e o homem revela um ciúme doentio.


O ciúme é infundado, já que o amor entre Victor e Lisa está mais para o entre duas irmãs. O roteiro não deixa claro, mas o personagem que devota um amor descompromissado pela pianista apresenta-se mais como seu melhor amigo gay do que como um pretenso amante. Mas Michael aparentemente não consegue se convencer disso, e começa a suspeitar de sua esposa, que sai todas as segundas e sextas para encontrar-se com um homem.

Acontece que ela tenta ajudar em tempos tão sombrios como a guerra, onde falta dinheiro para pagar as contas e até para a alimentação. Os falatórios na cidade entregam pessoas que com um problema tão grande como a guerra ainda encontram tempo para divulgar mexericos. Durante uma discussão, Michael abandona a esposa, levando sua filha para um local desconhecido. Desesperada, Lisa vai em busca de seu pai russo, e acaba presa durante anos.


Obviamente o grande ator George Sanders é subaproveitado na trama. Como eu citei acima, fica nas entrelinhas sua homossexualidade, afinal, em um filme americano da década de sessenta isso não era dito tão claramente. Seu devotado Victor parece não ter uma vida sentimental, vive do passado e admira sua amiga há muito tempo. Tempo suficiente.

Rock Hudson entrega sua já contumaz interpretação vista em tantas outras películas. Mas é Cornell Borchers, estrela do cinema alemão, que entrega um sentimento contido à trama. A atriz sueca, muitas vezes comparada à Ingrid Bergman, teve uma carreira relativamente curta e se aposentou poucos anos após este filme para se dedicar à família. Shelley Fabares tinha doze anos quando interpretou a pequena Suzy. A pequena atriz que mais tarde iria ser companheira de Elvis Presley em três filmes, foi bem dirigida e entrega uma boa interpretação no papel de uma garotinha que idolatra o pai, a memória da mãe, mas não aceita que o pai se case com outra mulher.



Nunca Deixei de Te Amar, como já citei no início desse texto, possui muitas características dos melodramas assinados por Douglas Sirk. Tem estilo, mas repete padrões da sociedade americana da década de cinquenta, algo que Sirk citava apenas para colocar o dedo na ferida. Suzy é uma garotinha muito educada, verdadeiramente doce, e que é preparada para ser uma “boa esposa”. Incentivada com elogios, acha que ser criança é obviamente treinar para um futuro onde cuidará de seu marido e filhos, treinando com o pai. A visão de uma mulher do lar era algo incentivado e que não fugia à regra, embora hoje soe estranho para grande parte de nós. Teria sido este um dos motivos que Sirk, ávido crítico dessa sociedade mexeriqueira, não fizesse questão de ser citado como co-diretor? De qualquer maneira este filme é um retrato de uma época, e vale a pena ser conferido.

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