O Homem que Matou o Facínora (1962)

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“Este é o Oeste, senhor. Quando a lenta antecede os fatos, publique-se a lenda!”

O senador Ransom Stoddard (James Stewart) está de volta à pequena cidade Shinbone. Logo na estação de trem, é cercado por curiosos que tentam saber o motivo de seu retorno. Ao ser questionado, o homem que é considerado um herói para a região, responde que está vindo para o enterro de um velho amigo, Tom Doniphon (John Wayne). Stoddard não se nega a um encontro com os jornalistas, e conta a verdadeira história por trás de sua lenda:
Sua chegada há 30 anos em Shinbone foi tortuosa: sua diligência é cercada pelos bandidos liderados por Liberty Valance (Lee Marvin). Salvo por Doniphon , o jovem recém formado em Direito é levado para o restaurante da família de Hallie (Vera Miles). Uma certa rivalidade é criada, já que Doniphon ama Hallie, mas não se revela diretamente. Mesmo sendo tão diferentes, e com todos os motivos para não se darem bem, eles acabam se tornando amigos. O retorno de Liberty Valance deixa a cidade em polvorosa. Todos entram em pânico. Menos Doniphon, que o enfrentará como bravura mesmo que o amigo ganhe os créditos por isso.
John Wayne queria realizar as filmagens de O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance) em technicolor, trazendo a oportunidade de mostrar o Monument Valley (cenário preferido dele) em fortes cores. Mas a Paramount barrou o projeto, argumentando que estavam fazendo contenção de gastos naquele período. Mas o fato acabou ajudando mais do que atrapalhando, já que seus astros principais, James Stewart e John Wayne, fariam personagens em suas idades jovens. Ficaria de fato inverosímel. Outro fato interessante é que o ator Oz Whitehead interpreta um adolescente, mas ele já tinha 50 anos de idade. Ou seja: o preto e branco ajudou e muito.
Ford entre Stewart e Wayne
Em outras ocasiões, o diretor diria que preferia fazer filmes em preto e branco, por considerar que “você tem que ter mais cuidado, conhecer seu trabalho, examinar atentamente onde irá colocar as sombras, as perspectivas. Pode me chamar de antiquado, mas para mim, preto e branco é a fotografia real”.

 

Ford era de fato um grande mestre. Mas como era difícil conviver com ele…  Embora o ator Edmont O’Brien tenha pontuado que neste ele estava particularmente feliz, outros atores não tiveram sorte que ele. Ken Murray se queixava da maneira como ele tratava os colegas de trabalho, chamando-o de ogro. Aparentemente apenas James Stewart, por um grande milagre, conseguia escapar na maioria das vezes do humor ácido do diretor. Mas a vítima preferida, segundo Woody Strode, era John Wayne.

Os dois eram conhecidos por uma grande parceria. Mas aparentemente o diretor não queria a presença de Wayne nesta produção. Alguns atribuíam o fato à idade avançada dele, que na época tinha quase 70 anos e já estava impaciente com tudo ao seu redor. Mas uma coisa é certa: sua tirania durante as filmagens pode ter causado surtos em diversos atores, mas a maior parte deles acabou por reconhecer que aqueles momentos tensos serviram para que melhorassem em suas interpretações. O próprio Woody Strode seria um deles, sendo sempre grato pelo diretor fazer dele um ator de verdade. “Foi o maior diretor com quem trabalhei”. Alguém duvida? Mas as coisas poderiam ter sido mais tranquilas, sr. Ford.

Antes de assistir ao filme já tinha conhecimento da icônica frase, tão utilizada nos meios jornalísticos. O que interessa a verdade histórica se aquelas contadas podem ser mais reais no imaginário das pessoas? No filme, como muitas vezes na vida, os jornalistas decidem manter o que já conhecem: “Este é o Oeste, senhor. Quando a lenta antecede os fatos, publique-se a lenda!”. Mas, embora seja plenamente lembrada pelo filme, a tão conhecida frase não era inédita: é o título de um romance policial de Graig McDonald sobre a morte de Ernest Hemingway. Um filme imperdível para os fãs do verdadeiro cinema.

 

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