O Testamento do Dr. Mabuse (1933)

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Segundo Andrew Sarris, se Hitler não tivesse existido, provavelmente Fritz Lang o inventaria. Nascido em Viena, se transformou em um dos diretores mais aclamados da Alemanha, sendo um dos principais expoentes do expressionismo alemão. Metrópolis (1927) e M (1931) viriam a ser suas obras primas, mas sem dúvidas Dr. Mabuse figura entre seus principais filmes.

 Em 1922 o diretor já tinha trazido às telas s “Dr. Mabuse, der Spieler”, baseado no personagem criado por Norbert Jacques. Com cerca de quatro horas, o drama foi dividido em duas partes e trazia Rudolf Klein-Rogge no papel de Mabuse. Klein-Rogge era bem conhecido por interpretar personagens sombrios. 11 anos depois, por julgar o momento propício para uma continuação, Lang trazia às telas o “Testamento do Dr. Mabuse” (1933), que surgia como um complemento da história anterior.
 Dr. Mabuse é um grande cientista hipnotizador que é confinado em um hospício e escreve sem parar. Diversos crimes sem explicação acabam por acontecer, levando o detetive Ohmann (Otto Wernicke) a tentar desvendar o mistério. Em meio às investigações, Mabuse morre e o detetive encontra em seus papéis os planos com os crimes cometidos. Outras tragédias e coincidências passam a acontecer, aumentando o mistério em torno dos crimes.

O filme teve sua circulação proibida por Hitler, que começava a tomar o poder na Alemanha, pois com um caráter extremamente explícito, trazia um prólogo do que seria o nazismo, com personagens que parecem avisar sobre um problema eminente para o país, colocando na boca de Dr. Mabuse o discurso alucinante de que os nazistas iriam assumir nos anos seguintes, com seus crimes terríveis e suas perseguições políticas e ideológicas que atormentariam não só um grupo, mas toda a humanidade. Segundo o Ministério do Interior, ele teria sido proibido por conta de seu cruel e depravado conteúdo.

Advindo do cinema mudo, Lang usou efeitos visuais de sobreposição que criavam a atmosfera fantasmagórica do personagem principal, dando ênfase nas imagens que ampliavam as alucinações do personagem hipnotizador sobre todos os envolvidos. Os seguidores da obra de Lang esperavam ansiosamente ouvir a voz de Mabuse, que no primeiro filme, embora mudo, parecia falar muito. Mas o diretor optou por utilizar de uma sugestão de voz apenas ouvida através de uma cortina. O mesmo cenário foi utilizado para uma outra versão, filmada em francês e com outros atores. Essa era uma prática comum na época e facilitava a distribuição em outros países.

Após a ascensão de Hitler ao poder, todas as cópias do filme foram recolhidas por medo de que suas ideias fossem propagadas. Era o medo que a população tivesse contato de fato com a verdade do nazismo. Mesmo assim, Lang chegou a ser convocado por Hitler para que fizesse parte do Ministério da Propaganda, oferecendo a ele um cargo importante no novo cinema alemão. Ignorando o convite, Lang partiu para a França.

Embora hoje seja aclamado, trouxe uma recepção dividida, com alguns considerando a construção e atuações extremamente vulgares. Os franceses, por sua vez elogiaram a história, e sobretudo sua fotografia. Sem dúvidas é um filme essencial para quem deseja absorver um pouco mais sobre a obra de Fritz Lang.

O BLURAY

A Obras Primas do Cinema lançou há algum tempo um bluray dedicado a essa obra de Lang. A versão restaurada tem uma qualidade clara e como bônus traz ainda um livro com curiosidades sobre o filme e comentários do diretor.

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