O roteiro assinado por George Zuckerman e tendo como base o romance de Robert Wilder foi baseado em um drama real envolvendo a cantora Libby Holman e seu marido. Mitch Wayne (Rock Hudson) tem origem pobre, e vive seus dias dividindo-se entre ajudar Jasper Hadley (Robert Keith) a lidar com seus filhos, já adultos e problemáticos. Marylee (Dorothy Malone) o conheceu ainda na infância e nutre por ele um intenso amor não correspondido. Mitch também é o melhor amigo do irmão dela, o playboy Kyle (Robert Stack). Os filhos não sabem como lidar com o poder e o dinheiro, e preenchem seus dias numa vida louca. E apesar de amarem Mitch, não conseguem entender porque o pai o trata como um verdadeiro filho.
Douglas Sirk costumava dizer que Rock Hudson era um ator mediano, mas ele o obrigava a repetir tantas vezes suas cenas que finalmente conseguia tirar boas interpretações do galã. Mas não era para tanto. Apesar de mediano, Rock tinha carisma e uma figura agradável que fascinava homens e mulheres. Sua parceria com Doris Day mostrou o quanto ele tinha timing para comédias, e ao lado de Elizabeth Taylor ele faria um dos filmes mais consagrados da dramaturgia americana: Giant. Aqui ele empresta sua bela silhueta a um homem contigo, de pouco riso e maõs firmes. Uma espécie de faz-tudo, sempre disponível a ajudar, chegando a abrir mão de seu amor.
Robert Stack acerta o tom de seu personagem Kyle, um homem totalmente descontrolado, alcoolatra e com uma baixa autoestima. Stack não chegou a ganhar um Oscar por suas performances, mesmo sendo indicada por sua participação em Palavras ao Vento. Seu maior sucesso foi mesmo na minissérie Unsolved Mysteries ( 1987-2002). Lauren Bacall, o nome que talvez mais seja lembrado do elenco, empresta sua sensualidade à uma mulher que desperta paixões por onde passa, papel repetido numerosas vezes desde que estrou ao lado de Humphrey Bogart em Uma Aventura na Martinica. Nada de novo, mas mesmo assim é confortante ver a senhora Bogart em grande forma.
Da extensa biografia de Douglas Sirk este é sem dúvida alguma um dos filmes que nutro grande afeto. Após este ainda faria mais alguns de destaque até findar a carreira na América com Imitação da Vida (1959). Em seguida, passou a dedicar-se ao magistrado, se tornando professor em uma universidade. Ao contrário do que se pode pensar, seus filmes poderiam parecer novelões repletos de trilha sonora intermitente e que lhe renderam o título de rei do melodrama. Este drama familiar envolvendo alcoolismo, prostituição, paranoia e dificuldades nas relações apresenta um retrato de uma família em frangalhos.
Chocar é bem a palavra mais usada nos filmes dirigidos por Sirk, que embora não seja americano (ele nasceu na Alemanha), soube retratar como poucos as pessoas da época sem colocar uma camada de verniz em cima da podridão. E ele realmente mostrava essa camada de pessoas que viviam hipocritamente controlando a vida de todos. Seus filmes, não só este (Vide Tudo o Que o Céu Permite e Sublime Obsessão), são vislumbres fascinantes da vida durante esta década tão conhecida por seus vestidos esvoaçantes e que aprendia a viver no pós-guerra. E ele não somente mostrava a sociedade, colocava o dedo na ferida e mostrava as falhas dela com seus problemas reais.
* O filme foi lançado em dvd pela Classicline e pode ser adquirido na distribuidora. Clique na imagem para ser redirecionado: