Margaret Sullavan é mais reconhecida hoje por causa de sua parceria ao lado de James Stewart. Foi ela quem insistiu para que o famoso ator tivesse sua primeira grande chance no cinema. Mas, avessa às telas, ela mesma faria apenas 16 filmes ao longo de sua carreira. Era nos palcos que Margaret Sullavan se realizava.
A atriz também era bem conhecida por seus posicionamentos extremos, que muitas vezes faziam com que suas relações pessoais se tornassem difíceis. Até mesmo Louis B. Mayer, um dos chefões mais temidos da MGM, tinha receio em ter grandes debates com a atriz. O que é extremamente chocante saber, pois sua imagem nas telas, sua voz rouca e suave (sua marca registrada) e suas personagens carismáticas são exatamente o avesso disso. Curiosa, fui conhecer um pouco mais de sua vida, e trago para vocês essa matéria.
Margaret Brooke Sullavan nasceu em 16 de maio de 1909 em Norfolk. Era uma criança doente, apresentava problemas de socialização devido a problemas de saúde. Margaret tinha fraqueza muscular, o que fez com que começasse a andar muito tardiamente. Foi somente a partir dos seis anos de idade que ela passou a ter contato com outras crianças.
Seus pais, Cornelius e Garland, tinham uma ótima condição financeira, e não gostavam de ver sua filha brincando com crianças mais pobres. Segundo Margaret:
“Eu nunca fui uma daquelas garotinhas que simplesmente andavam com outras garotas comparando vestidos e cozinhando pratos experimentais. Eu gostava de brigar com os meninos.”.
Por isso, colocaram Peggy, seu apelido de infância, em uma instituição para meninas. Desejavam que ela se tornasse uma boa dama do sul. O plano não deu certo quando descobriram que a garota fugia da escola. Resolveram coloca-la em um internato, depois outro e outro. E foi em um deles que ela começou a participar de produções teatrais e pareceu ter se apaixonado pelos aplausos.
Seus pais mais uma vez não concordavam com ela, e tentavam de tudo para tirar de sua cabeça a ideia de ser uma atriz. Margaret se matriculou em um curso de dança e posteriormente de atuação. Seu pai não quis pagar seus estudos, numa última tentativa para que ela abandonasse o desejo. Não adiantou. Margaret trabalhou em uma livraria para pagar seus custos.
O primeiro papel de destaque foi em Capel Cod, 1928. Mas a grande chance veio quando Lee Schubert a viu em cena. Ela estava resfriada, e sua voz mais rouca que o normal, chamou a atenção.
Quando estava no Harvard Dramatic Society conheceu Henry Fonda, que parecia intrigado com a garota que conseguia lhe dar um soco em cena que parecia real. Eles logo se apaixonaram, mas o relacionamento desde cedo foi muito problemático. As brigas eram extremamente violentas. Nesse período também conheceu o jovem James Stewart. Há fontes que informam que ela teria apresentado Jimmy a Fonda, que se tornaria melhores amigos durante um bom tempo.
Em 1931 ela estreou na Broadway em A Modern Virgin, sendo bastante elogiada pelo público e crítica. A carreira abria-se à sua frente, e ela começava a receber convites para testes no cinema. Isso não a afetava, já que sempre preferiu estar num palco. Neste mesmo ano casou-se com Fonda, mas o casamento não duraria muito tempo. Após alguns meses se separaram e em 1933 estavam divorciados.
Fonda lembraria mais tarde que:
“Eu nunca soube ela tinha um temperamento forte até nos casar. Suas palavras me picavam como vespa. Chegou a um ponto que não existia mais amor. Vivíamos brigando, gritando e discutindo. Agora tudo é um grande borrão. Brigávamos por qualquer coisa.” (Fonte: Hank & Jim, Scott Eyman)
Bem, Fonda também não era bem conhecido por seu humor e complacência. O ator posteriormente também teria problemas com sua esposa (que se suicidou) e com os filhos. Somente no final da vida, faria as pazes com Jane Fonda e tinha um grande problema de relacionamento com Peter Fonda. Mas isso é assunto para outra matéria.
Início da carreira
Após dois anos trabalhando no teatro, foi vista por John M. Stahl. Ele ficou impressionado com a atriz e a chamou para atuar em Nós e o Destino (1933). Margaret estreava já com uma protagonista. Mas antes de aceitar o contrato com a Universal, exigiu uma cláusula que lhe permitia continuar trabalhando no teatro e fazer no máximo dois filmes por ano. O contrato usual de 5 anos também foi reduzido para 3. Ela não gostava de contratos longos e futuramente iria fazer pequenos contratos.
Bastante exigente, não ficou muito satisfeita com o resultado final, e pensou em comprar o contrato. O alto valor a fez voltar atras. No ano seguinte estava novamente nas telas em Vale a Pena Viver? (1934). Margaret mostrou versatilidade ao trabalhar na comédia A Boa Fada (1935), dirigida por seu marido William Wyler. Os dois estiveram casados entre 1934 e 1936.
Em 1936 ela começaria uma parceria de sucesso ao lado de James Stewart. E se tem alguém que deu aquela força ao ator foi Margaret. Ela insistiu para que o ator que tinha feito somente algumas participações, fosse escalado para Amemos Outra Vez (1936). Ela também lhe ensinou vários macetes de cena. O resultado foi fabuloso: a química entre os dois foi uma das melhores coisas de meados da década de 30. A dupla atuou também em O Último Beijo (1938), A Loja da Esquina (1940) e Tempestades d’Alma (1941).
A química era tão grande que o terceiro marido da atriz, e boa parte de Hollywood, achavam que os dois tinham algo mais. Nunca foi confirmado se fato houve algum envolvimento amoroso entre os dois, mas segundo Walter Pidgeon “era tão obvio que eles estavam apaixonados”.
Também em 1936, Margaret casou-se com Leland Haywart, seu agente desde 1931. Ela estava esperando sua primeira filha, Brooke, nascida em 1937. Os dois tiveram mais dois filhos: Bridget (1939 – 1960) e Bill (1941 – 2008). O divórcio ocorreu em 1947 após a atriz descobrir que estava sendo traída. Mais abaixo falarei um pouco mais sobre esse assunto.
Margaret trabalhou ao lado de grandes astros como Robert Taylor, Henry Fonda, Charles Boyer e Glenn Ford, mas por volta de 1941 estava cada vez mais cansada de atuar para o cinema. Estava exausta quando atuou em Aurora Sangrenta (1943) e decidiu que iria se dedicar somente ao teatro. “Eu pertenço ao teatro, de corpo e alma“, revelou em uma entrevista.
Carreira Posterior e problemas emocionais
A atriz ainda voltaria a atuar no cinema no início da década de 50. Mas mesmo recebendo críticas favoráveis após No Sad Songs for Me (1953), não aceitou mais os convites. Nesse período ela estava casada com o banqueiro Kenneth Wagg, com quem permaneceu até sua morte. Mas já tinha passado por tanta coisa.
Como eu citei no início da matéria, ela era conhecida por suas explosões, discussões acirradas e agressões. Tais comportamentos foram piorando ao longo do tempo quando sua depressão piorava.
Poucos sabiam, mas Margaret também tinha uma doença progressiva, que pouco a pouco foi lhe tirando a audição. Na década de 50 ela quase não escutava, e isso era mais um motivo para que se angustiasse. No final de sua vida, ela aprendeu a ler lábios para entender as outras pessoas.
Quando separou-se de Hayward, acusou o marido de tentar ganhar as crianças com presentes e um estilo de vida mais caro. Após uma das visitas, os dois filhos mais novos lhe disseram que preferiam morar com o pai. Segundo sua filha mais velha, Brooke, a mãe chegou a se humilhar para que os filhos ficassem com ela, mas eles não cederam. Brooke, que tinha 10 anos na época, revelou em um livro escrito posteriormente:
“Mesmo do meu quarto, o som de seu choro era tão doloroso que entrei no banheiro e coloquei as mãos nos ouvidos“.
O esgotamento emocional a levou a se internar em uma clínica durante dois meses.
Em 1 de janeiro de 1960 Margaret foi encontrada inconsciente na cama de um hotel em Connecticut. Ao seu lado, o roteiro de Sweet Love Remembered. Levada para o hospital, foi declarada morta. Tinha 50 anos e o motivo de sua morte foi overdose de remédios. Não se sabe se intencional ou não.
Hoje Margaret é apenas uma lembrança em Hollywood, lugar que tanto detestava. Não conheço suficiente da vida de Margaret, embora tenha lido várias matérias que ampliavam seus problemas. A atriz tinha seus problemas como qualquer pessoa, e escondia seus esqueletos nos armários como vários que conheço. O fato é que se quanto mais conhecemos alguém, mais conhecemos seus defeitos e podemos abafar qualquer coisa boa que a pessoa tenha feito. Prefiro lembrar-me dela não por seus posicionamentos, mas como aquela doce figura e A Loja da Esquina (1940), filme que vejo quando desejo sorrir.