17 de abril de 2025

Noite de Pecado (When Tomorrow Comes, 1939): : Amor Proibido e Conflitos Morais no Cinema Clássico

“Noite de Pecado” é um emocionante drama romântico de 1939 que combina música, amor proibido e dilemas morais em uma história inesquecível da era de ouro de Hollywood.

Noite de Pecado (When Tomorrow Comes, 1939)

Helen Lawrence (Dunne) trabalha como garçonete. Uma noite, recebe como cliente um misterioso francês. Ela fica fascinada por sua elegância e distinção. A impressão é recíproca, e Philip (Boyer) a segue até a convenção do sindicato. Helen é uma mulher do povo, e que busca lutar por seus direitos e melhores situações para sua categoria. Estamos na era da grande Depressão americana e as pessoas estão insatisfeitas com seus trabalhos e os salários baixos. Após a reunião, eles passeiam no porto. Ele elogia o seu posicionamento, afirma que ela mudara sua forma de ver os movimentos de luta por salários. Também revela que partirá em três dias, e a convida a passar mais algumas horas em sua companhia. Helen aceita, e no dia seguinte vão fazer um passeio de barco. Quando uma chuva torrencial começa, ele a leva para uma mansão.

 

Inicialmente Helen estranha, mas logo percebe que está ao lado de Philip Chagal, um famoso músico francês e multimilionário. Ela também descobre que ele é casado com Madeleine (Barbara O’Neil). Desesperada, resolve partir no meio da noite. Philip se oferece para leva-la à sua casa, mas logo são ilhados pela chuva. Obrigados a se abrigarem em uma igreja, confessam o amor que estão sentindo um pelo outro. Amanhece, e com ele vem a notícia de que a esposa de Philip encontra-se na cidade. Após um embate com a mesma, Helen decide se afastar de seu grande amor.

 

Noite de Pecado foi o segundo de três filmes protagonizados por Charles Boyer e Irene Dunne. O diretor John Stahl trouxe às telas alguns dramas bastante conhecidos: Imitação da Vida (1934) e Sublime Obsessão (1935), e me parece um precursor dos melodramas que Douglas Sirk traria à América. Basta lembrar que o alemão refilmou alguns dos filmes de Stahl, os dois citados e este, que Sirk chamou de Interlúdio (1957).

O filme foi baseado no livro “A Modern Cinderella”, de James M. Cain: uma mulher órfã que luta diariamente por sua sobrevivência. Philip, um homem fino que por seus gestos se torna uma confortável presença. Ela o leva a conhecer os percursos que faz: desde jantares modestos até uma noite em um pier repleto de crianças e pescadores. O romance poderia caminhar facilmente, não fosse o grande problema que o homem tem: é casado, e com uma mulher doente. Suficiente para o desenrolar das dúvidas comuns em um gênero como este. O que fazer com a esposa? A solução encontrada por Stahl nos deixa uma esperança, um alívio, mas ao mesmo uma dúvida se é de fato um final feliz.

 

Irene Dunne, uma das atrizes mais injustiçadas do cinema, traz sua doçura para Helen. Consegue nos convencer sobre o caráter de sua personagem através de gestos suaves e uma força sobre-humana para sair de uma situação angustiante. Charles Boyer acrescenta o charme já conhecido em tantos filmes que fez na América. Seu rosto distinto é a máscara de um homem que se apaixona, mas é incapaz de fugir de seus deveres. Acredito que o filme funcione em seus diálogos e uma direção apaixonada de Stahl. Cenas como as realizadas na chuva dão o tom da angústia interior vivida pelos personagens. Quando Philip se afasta, a câmera deixa Helen em sua solidão e medo.  Noite de Pecado também funciona porque é um melodrama romântico e bem convencional, e onde também temos a oportunidade de ver Irene Dunne cantando Serenade (de Franz Schubert) acompanhada por Charles Boyer ao piano. Um ótimo filme para ver em uma tarde chuvosa.

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