Noite de Pecado (When Tomorrow Comes, 1939)

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Helen Lawrence (Dunne) trabalha como garçonete. Uma noite, recebe como cliente um misterioso francês. Ela fica fascinada por sua elegância e distinção. A impressão é recíproca, e Philip (Boyer) a segue até a convenção do sindicato. Helen é uma mulher do povo, e que busca lutar por seus direitos e melhores situações para sua categoria. Estamos na era da grande Depressão americana e as pessoas estão insatisfeitas com seus trabalhos e os salários baixos. Após a reunião, eles passeiam no porto. Ele elogia o seu posicionamento, afirma que ela mudara sua forma de ver os movimentos de luta por salários. Também revela que partirá em três dias, e a convida a passar mais algumas horas em sua companhia. Helen aceita, e no dia seguinte vão fazer um passeio de barco. Quando uma chuva torrencial começa, ele a leva para uma mansão.

Inicialmente Helen estranha, mas logo percebe que está ao lado de Philip Chagal, um famoso músico francês e multimilionário. Ela também descobre que ele é casado com Madeleine (Barbara O’Neil). Desesperada, resolve partir no meio da noite. Philip se oferece para leva-la à sua casa, mas logo são ilhados pela chuva. Obrigados a se abrigarem em uma igreja, confessam o amor que estão sentindo um pelo outro. O dia amanhece, e com ele vem a notícia de que a esposa de Philip encontra-se na cidade. Após um embate com a mesma, Helen decide se afastar de seu grande amor.

Noite de Pecado foi o segundo de três filmes protagonizados por Charles Boyer e Irene Dunne. O diretor John Stahl trouxe às telas alguns dramas bastante conhecidos: Imitação da Vida (1934) e Sublime Obsessão (1935), e me parece um precursor dos melodramas que Douglas Sirk traria à América. Basta lembrar que o alemão refilmou alguns dos filmes de Stahl, os dois citados e este, que Sirk chamou de Interlúdio (1957).

O filme foi baseado no livro “A Modern Cinderella”, de James M. Cain: uma mulher órfã que luta diariamente por sua sobrevivência. Philip, um homem fino que por seus gestos se torna uma confortável presença. Ela o leva a conhecer os percursos que faz: desde jantares modestos até uma noite em um pier repleto de crianças e pescadores. O romance poderia caminhar facilmente, não fosse o grande problema que o homem tem: é casado, e com uma mulher doente. Suficiente para o desenrolar das dúvidas comuns em um gênero como este. O que fazer com a esposa? A solução encontrada por Stahl nos deixa uma esperança, um alívio, mas ao mesmo uma dúvida se é de fato um final feliz.

Irene Dunne, uma das atrizes mais injustiçadas do cinema, traz sua doçura para Helen. Consegue nos convencer sobre o caráter de sua personagem através de gestos suaves e uma força sobre-humana para sair de uma situação angustiante. Charles Boyer acrescenta o charme já conhecido em tantos filmes que fez na América. Seu rosto distinto é a máscara de um homem que se apaixona, mas é incapaz de fugir de seus deveres. Acredito que o filme funcione em seus diálogos e uma direção apaixonada de Stahl. Cenas como as realizadas na chuva dão o tom da angústia interior vivida pelos personagens. Quando Philip se afasta, a câmera deixa Helen em sua solidão e medo.  Noite de Pecado também funciona porque é um melodrama romântico e bem convencional, e onde também temos a oportunidade de ver Irene Dunne cantando Serenade (de Franz Schubert) acompanhada por Charles Boyer ao piano. Um ótimo filme para ver em uma tarde chuvosa.

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