Dirigido por Mark Sandrich, O Picolino (Top Hat, 1935) traz uma história bastante simples. Jerry Travers (Astaire) está na Europa. Ele é um dançarino que está prestes a estrelar um número musical para Horace (Horton). Chegando lá conhece Dale Tremont (Rogers), uma linda garota que está de férias com dois amigos: o estilista Bates (Blore) e Madge (Broderick). Logo ele se apaixona e tentará conquista-la. Dale não se impressiona muito com o rapaz, mas com o tempo cairá fascinada pelo seu estilo e elegância. Afinal, ele dança, né? O flerte caminha muito bem até que acontece uma série de desencontros que farão com que Dale pense que Jerry na verdade é o marido de sua amiga.
A confusão de identidades que seria facilmente resolvida com uma simples conversa é pouco crível, mas se você se deixar levar pela história aproveitará bons momentos. Afinal, estamos nos filmes, nos anos 30, momento em que as pessoas simplesmente queriam ir aos cinemas para se divertir um pouco e ver as estrelas acordarem perfeitamente maquiadas e partirem para tomar café com penteados e vestidos bem elaborados. Lembre-se que em 1935 a América ainda estava se recuperando da quebra da bolsa de valores, o código Hays começava sua censura acirrada e a realidade crível não parecia uma boa pedida para quem só queria horas de distração. E se eram sonho o que queriam, O Picolino entrega com louvor.
E um dos momentos mais marcantes não só desde musical, mas de toda a história do cinema, é quando Astaire e Rogers dançam ao som da deliciosa Cheek to Cheek. Como não ficar fascinado com a dança, com a letra delicada que fala sobre um amor tão grande que faz os amantes subirem até o céu? O casal de dançarinos parece flutuar enquanto nos esquecemos de tudo ao redor. E uma das coisas que mais contribui para isto é o vestido usado por Ginger Rogers.
O vestido principal foi uma criação conjunta do figurinista Bernard Newman e Ginger Rogers. A atriz queria algo luxuoso, em tons azuis que lembrassem as telas de Monet, e que se tornasse visualmente belo mesmo através da fotografia em preto e branco. Lembre-se que mesmo sem os tons coloridos, eram muito importantes as tonalidades escolhidas, pois havia todo um estudo sobre os efeitos de luz e sombras. Feito em cetim e com penas de avestruz, trazia as costas nuas, lançando moda no período. O arremate final ficava por conta de uma grande joia presa, que mostrava parte das costas. Procuramos em vários locais uma foto original do vestido, mas infelizmente não o encontramos. Abaixo algumas fotos da criação:
Conta-se que ao ver ao ver a atriz, Phyllis (esposa de Fred Astaire) teria comentado com David Niven que a atriz parecia um galo com todas aquelas penas. Não se sabe se isso de fato aconteceu, mas Fred não se agradou muito da ideia. As penas de avestruz voavam por todo o cenário, inclusive no seu nariz. Prestando um pouco de atenção, você poderá perceber enquanto assiste a cena que ele tinha alguma razão. Bom, mas Astaire era um gentleman, afinal, e se sentiu mal por seu comportamento.
Como pedido de desculpas, enviou a Ginger uma pena de ouro. Sincero ou não, o fato é que, em Desfile de Páscoa, realizado anos depois, ele faria uma paródia da dança ao lado de Judy Garland. Os vestidos usados em O Picolino são de fato um grande destaque. Astaire também foi responsável por seus próprios figurinos, assinando um estilo próprio que o tornaria um dos homens mais elegantes do século.Aqui embaixo mais alguns modelos:
Traje usado em O Picolino
O Picolino teve as músicas escritas pelo legendário Irving Berlin. Algumas foram deixadas de lado, mas Cheek to cheek se tornou um dos maiores clássicos americanos. Berlin atribuiu o sucesso da música à Fred Astaire, que considerava uma verdadeira inspiração. O compositor escreveria para outros seis filmes do dançarino. Recebido com entusiasmo pelo público, acabou por consagrar a dupla, e se tornou a produção de maior bilheteria do ano.
* O Picolino está sendo lançado pela Classicline e pode ser encontrado em qualquer loja do ramo. Você pode comprar online clicando na imagem abaixo: